Simone DemolinariPsicanalista com Mestrado e dissertação em Anomalias Comportamentais, apresentadora na 102,9 e 98 FM

Eu sei exatamente o que eu devo fazer

Publicado em 02/06/2022 às 06:00.

Na maior parte das vezes, sabemos exatamente o que devemos fazer, mas não fazemos. Essa constatação traz para o indivíduo grande sofrimento, pois ele se vê estagnado frente a solução de um problema que racionalmente depende só dele. 

Esse dilema é mais comum do que imaginamos: aquela pessoa que sabe que tem que fazer exercício físico, mas se deixa vencer pela preguiça; sabe que precisa fazer dieta, mas empurra para “amanhã”; o fumante que quer largar o vício, promete, mas não cumpre nada daquilo que gostaria. Isso ocorre pela dificuldade que temos em dominar nossas emoções. Quando nosso intelecto fica submisso às nossas emoções, viramos fantoches de nós mesmos. 

Saber o que deve ser feito e não fazer é uma constante fonte geradora de ansiedade e baixa autoestima. A ansiedade deriva da autocobrança e sentimento de culpa gerados pela conduta autodestrutiva e baixa autoestima porque quem age assim faz um péssimo juízo de valor de si mesmo, pois vive internamente com a sensação de derrota e fracasso. 

E por que fazemos isso conosco? Penso que 3 são os motivos que explicam esse tipo de comportamento:

Inteligência Emocional pouco desenvolvida: uma definição que gosto de dar pra inteligência emocional é a capacidade de dominar aquilo que nos domina, como preguiça, vício, mau habito. É através dessa “força de vontade” que desenvolvemos nossa autoestima e com isso aumentamos ainda mais nossa capacidade para ação. Isso explica o porquê de pessoas disciplinadas se desenvolverem cada vez mais, enquanto os procrastinadores só pioram. Quanto mais inteligente emocionalmente o indivíduo for, menos ele tem tendência a atitudes autodestrutivas. O nível de amor por si determina a ação ou a estagnação. 

O segundo aspecto: o prejuízo está menor que o prazer. A frase de Freud nos explica o ganho secundário; o motivo da dificuldade de agir de uma pessoa: “quando a dor é maior que o ganho, o indivíduo muda”.

Um flerte com a dor: mesmo parecendo estranho à compreensão lógica, há um elemento masoquista que faz com que uma pessoa permaneça na dor mesmo afirmando querer se libertar dela. Quando a nossa fala está em desalinho com a nossa ação, devemos acreditar na ação. Ela revela exatamente o que somos. Mesmo que isso nos frustre. 

Seja por falta de inteligência emocional, ganho secundário ou masoquismo, se, de fato, quisermos, conseguimos mudar e caminhar rumo à transformação verdadeira. Um bom começo pode ser cumprir o prometido para si mesmo sem negociar, fazer boas escolhas e estar disposto a se sacrificar em razão de um objetivo maior. A mudança comportamental está ao alcance de quem realmente se propõe a ela. 

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