Simone DemolinariPsicanalista com Mestrado e dissertação em Anomalias Comportamentais, apresentadora na 102,9 e 98 FM

Interação com os leitores

Publicado em 27/07/2023 às 06:00.

Alguns artigos dedico a responder perguntas feitas pelos leitores por meio de mensagens.

Por que sentimos ciúmes se sabemos que a outra pessoa sempre terá a opção de ir embora quando quiser?

Tentamos evitar a dor e às vezes fazemos isso de forma irracional. O ciúme é um exemplo.

Existe o ciúme sexual, aquele em que a pessoa teme perder a outra para alguém, mas, na maioria das vezes, não é este o caso. O ciúme que mais acomete os casais é o que chamo de ciúme emocional, ou seja, não exatamente existe a presença do terceiro elemento e sim a sensação de estar sendo preterido. Nesse caso, o ciúme ocorre direcionado a qualquer situação, incluindo as descabidas. Quem estiver preocupado em não despertar esse tipo de sentimento no outro deve também estar atento a isso. Prevenir é sempre melhor que se explicar.

Como não criar expectativas para não se decepcionar?

Muitos gostam de dizer que a receita para não se decepcionar é parar de criar expectativa. Não é o que penso. Nossas expectativas são nossas grandes aliadas, é por meio delas que vivemos: saímos da cama para trabalhar na expectativa de um bom dia, estimamos nossa longevidade (expectativa de vida), planejamos uma viagem, topamos participar de uma festa ou iniciamos um novo relacionamento. É com expectativa de que iremos ter bons momentos que saímos de nossas casas para nos divertir, para trabalhar e aceitamos novos desafios. A expectativa boa nos impulsiona, nos dá um gás extra, tão necessário para nosso dia a dia e as ruins também nos ajudam a alterar um planejamento e evitar problemas.

Portanto, as decepções não estão alicerçaras nas expectativas e sim nas ilusões. Ter ilusão de que o novo emprego não terá problemas, que um casamento será um “mar de rosas”, ter ilusão de que uma promoção profissional virá conforme a meritocracia, ilusão de que uma pessoa egoísta terá um “click" de consciência e passará a ser generosa, ilusão de que um relacionamento afetivo vai tampar todas as carências emocionais, ilusão de que uma pessoa pouco confiável irá cumprir um combinado. São inúmeras ilusões que criamos para embaçar a realidade. Mas é preciso lembrar que toda ilusão gera uma desilusão e é isso que nos faz degustar grandes tristezas. Quanto mais real for nosso pensamento, menos corremos o risco de "cair" na realidade.

Por que as pessoas fazem o “jogo do silêncio” dentro de um relacionamento?

Ficar com raiva e parar de conversar é uma atitude que algumas pessoas adotam como uma espécie de punição frente a alguém que teve uma atitude que o desagradou.  A psicologia adotou o termo passivo-agressivo para descrever a pessoa que expressa a raiva de maneira silenciosa. Quando algo frustra, ao invés de verbalizar de forma transparente, opta por esconder a raiva num comportamento “fechado” de silêncio, mau humor, sacarmos, ironias e indiretas. Na fala popular, é aquela pessoa que “emburra”. Há quem use desse mecanismo para se relacionar, deixando o clima constantemente pesado; com isso, o outro acaba cedendo. Quem age assim dificilmente muda seu comportamento, pois apesar de massacrar a convivência, gera vantagens pois é uma poderosa arma de manipulação. Resta saber quanto tempo a paciência irá suportar.

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