Simone DemolinariPsicanalista com Mestrado e dissertação em Anomalias Comportamentais, apresentadora na 102,9 e 98 FM

Medida Protetiva Emocional

Publicado em 24/11/2022 às 06:00.

Ouvimos falar com certa regularidade sobre casos em que há a necessidade de "medidas protetivas”. Essas são determinadas judicialmente com a finalidade de proteger um indivíduo que está em situação de risco, perigo ou vulnerabilidade, com o objetivo de preservar sua integridade e saúde física, mental e psicológica.

O mesmo cuidado se estende para o campo das emoções, onde devemos nos proteger de modo a preservar nosso bem-estar psíquico. Para que isso funcione bem é preciso a presença do amor próprio; ele será o termômetro para a medida protetiva emocional.

Muitas vezes nosso sofrimento está vinculado à forma com que nos relacionamos com as pessoas. Somos permissivos por fragilidade em não nos posicionarmos de forma sincera, ou então negligenciando o óbvio para não desapegar das nossas ilusões. Ou ainda suportamos, além do nosso limite, pesos que poderiam ser evitados.

Isso ocorre porque há um equívoco que nos faz acreditar que a nossa capacidade de suportar nos faz pessoas fortes. Mas é preciso cautela nesse pensamento, pois Isso nem sempre é verdadeiro. Somos acometidos por dois tipos de dores: as inevitáveis, como morte, doenças, tragédias; e as evitáveis: como casamentos ruins, amizades falsas, empregos abusivos. Conseguir lidar bem com as situações inevitáveis da vida é grande demonstração de força. Porém, suportar a dor que pode ser modificada caracteriza fraqueza emocional.

Mas isso nem sempre é percebido, porque vivemos numa cultura onde o sofrimento é algo valorizado. Não é à toa que um indivíduo que permanece, por muito tempo, numa situação de sofrimento se considera um “guerreiro", ou, como é comum dizer, “merecedor de um bom lugar no céu”: “Vou para o céu direto por suportar um casamento tão ruim”. É preciso ficar atento para não cair nessa armadilha, pois há uma forte romantização da dor, induzindo à crença de que suportá-la é um ato nobre. Além de um equívoco, é uma crença autodestrutiva.

O distanciamento emocional como medida protetiva é o primeiro passo para sair do “piloto automático" e conseguir discernir, através da consciência, o que é o nosso limite. A linha que separa a perseverança da autodestruição costuma não parecer muito nítida, visto a dificuldade de saber a hora certa de colocar um fim em determinadas situações.
 
Quando nos conhecemos pouco ou mesmo não respeitamos nosso limite, corremos o risco de nos tornarmos pessoas obsessivas e perdendo o limite do razoável, atentando contra a própria dignidade.

Devemos estar atentos para perceber o momento em que determinadas lutas não mais se justificam. Às vezes, a nossa maior vitória consiste em parar de tentar.

Nos proteger emocionalmente significa: avaliar se estamos felizes, saber o que queremos para nossa vida, qual o preço que estamos dispostos a pagar, com quais pessoas queremos conviver e assim ouvirmos o nosso sentimento mais íntimo.

Tomar medidas protetivas para preservação da nossa saúde mental é, antes de tudo, um exercício de amor próprio.

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