Pode parecer estranho, mas nem sempre aquilo que afirmamos querer de fato é verdade. Isso porque o número de mentiras que falamos pode ser bem maior do que imaginamos.
Um exemplo típico é quem afirma querer largar o cigarro mas na verdade nada faz para atingir tal êxito, a não ser desejar com afinco que a vontade de fumar diminua. Na mesma linha temos quem afirme querer emagrecer, economizar dinheiro, conseguir outro emprego, uma nova parceria afetiva, mas não consegue um resultado satisfatório. A vontade de fato existe, mas o comportamento não caminha na mesma direção. É como se uma pessoa dissesse querer chegar a São Paulo, dirigindo em direção ao Rio de Janeiro.
Certa vez ouvi uma história de um rapaz que pedia, com muito empenho, para a namorada lhe dar uma segunda chance e prometia um comportamento impoluto em prol de conquistar a confiança perdida. Mas em poucas semanas já titubeava na retidão e retomava o comportamento duvidoso.
A namorada o confrontava, e isso causava nele uma grande irritação, e ele a culpava de rancorosa. Na prédica, jurava amar, mudar, recuperar a confiança; na prática, repetia um padrão. A pergunta que fica é: será que de fato havia um desejo real de mudança ou apenas uma vontade de ser perdoado, sem a necessidade de fazer sacrifícios?
É preciso observarmos o que andamos proferindo; se nossa prédica estiver desalinhada da nossa prática, devemos ajustar ou a fala ou a ação, caso contrário corremos o risco de permanecermos uma vida inteira na mentira.
João, um rapaz de 48 anos, realizado profissionalmente, com a vida financeira estabilizada, de fácil traquejo social, afirmava que só faltava em sua vida uma esposa e filhos. Aliás, dizia que sempre buscou por isso, contudo não teve a sorte de encontrar ninguém.
Quando as relações iam caminhando para um compromisso mais sério, ele dava um jeito de finalizar, e assim seguiu terminando com quase todas as pessoas que passaram pela sua vida. Mesmo com esse vasto currículo afetivo, ninguém havia despertado nele a decisão de casar, embora ele fizesse questão de salientar que as moças eram ótimas. Seja por medo, insegurança ou mesmo indisposição para as concessões da vida a dois, as suas ações revelavam um claro desejo de permanecer solteiro.
Se fizermos um mergulho honesto dentro de nós teremos mais chances de sermos verdadeiros, e se mesmo assim quisermos insistir em mentir, que pelo menos não seja para nós mesmos.