Simone DemolinariPsicanalista com Mestrado e dissertação em Anomalias Comportamentais, apresentadora na 102,9 e 98 FM

O lado bom da solidão

08/06/2017 às 10:32.
Atualizado em 15/11/2021 às 08:59

Há uma constante reclamação, tanto dos homens quanto das mulheres, sobre a dificuldade de encontrar pessoas interessantes para se relacionar. Na verdade, conseguir uma parceria afetiva de qualidade nunca foi fácil. Porém, antigamente nossa cultura era mais casamenteira e as mulheres mais dependentes, o que contribuía sobremaneira para o casamento acontecer e durar. Hoje a dinâmica mudou. A mulher ganhou independência e a cultura passou a não condenar tanto quem opta por ficar sozinho. 

Uma questão que tem contribuído para as pessoas escolherem a vida de solteiro é o medo de perder a individualidade. E isso tem lá suas razões. Alguns relacionamentos exigem muito, inclusive que a pessoa mude o jeito de ser para se adaptar ao do outro. E assim o custo benefício da vida a dois passa a não ser tão interessante e muitos acabam preferindo ficar solteiros a ter toda aquela amolação.

Somado a isso, o famoso “medo da solidão” que antes causava pavor em muita gente parece que vem diminuindo com o passar do tempo e com o avanço tecnológico. As pessoas têm descoberto que ficar sozinho não é algo tão tenebroso quanto parece. Aliás, quanto mais uma pessoa for competente para ficar sozinha, mais preparada para a vida afetiva ela estará. Isso porque a solidão é uma ótima forma de autoconhecimento. É na solidão que o indivíduo entra em contato consigo mesmo e tem oportunidade de conhecer suas fraquezas e suas forças.

Outra questão que algumas pessoas descobrem quando passam um tempo sozinhas é que o equilíbrio emocional, a paz e a harmonia são emoções encontradas dentro de si, e não a partir do outro (aliás, o outro tem mais o poder de tirar o equilíbrio do que acrescentar). Essa descoberta é muito significativa, pois fortalece sobremaneira quem a vivencia e quebra um grande mito do ideal romântico de amor, onde há a crença de que o par afetivo irá preencher todo o vazio existencial e nos tirar da solidão. Na prática, isso não ocorre. A prova disso é que, mesmo estando acompanhado, a sensação de incompletude não é eliminada. Uma citação adequada para o contexto é a de Fernando Pessoa: “Enquanto não atravessarmos a dor de nossa própria solidão continuaremos a nos buscar em outras metades. Para viver a dois, antes, é necessário ser um”.

Todas as pessoas deveriam passar um tempo sozinhas para restabelecer um diálogo interno, descobrir o poder pessoal e aumentar a autonomia emocional. O encontro consigo pode ser excelente ponto de partida para estabelecer parcerias afetivas de boa qualidade. Afinal, fica mais à mercê da solidão quem não sabe que tem a si mesmo. 

  

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