Simone DemolinariPsicanalista com Mestrado e dissertação em Anomalias Comportamentais, apresentadora na 102,9 e 98 FM

Para ser feliz é preciso coragem

07/07/2021 às 15:55.
Atualizado em 05/12/2021 às 05:21

Precisamos de coragem para ser feliz. Pode parecer estranho, mas o medo da felicidade faz com que nos boicotemos para sabotar aquilo que mais desejamos. 
Sabotar a própria felicidade é algo comum, muitas pessoas já têm plena consciência de que fazem isso consigo. É uma armadilha inconsciente: quando vimos, já está feito. É como se fôssemos algozes de nós mesmos. 

Esse movimento que ocorre na contramão daquilo que desejamos é o que Freud mapeou em: “Os que Fracassam ao Triunfar”. Ele descrevia as pessoas que possuíam um estranho medo de ter sucesso, e por isso sentiam um certo alívio quando o que estavam fazendo dava errado. Um pensamento inconsciente que funciona mais ou menos assim: eu vou fazer de tudo para dar certo, mas tomara que não dê. 

Tudo isso tem a ver com medo de fracassar, medo do novo, do desconhecido, do julgamento, da rejeição, ou seja, medo da felicidade. Tudo isso tem a ver com a sensação de iminência de tragédia e mantém uma correlação direta com a nossa tendência autodestrutiva aliada à necessidade de controle: “já que as coisas podem dar errado, deixe que eu mesmo as estrago”. 

Percebemos essa autossabotagem quando nossa boca diz que queremos concluir tal tarefa, mas não damos continuidade a ela. Há pessoas que quando estão indo muito bem na busca de um objetivo, de repente, sem um motivo consistente, desistem de continuar. Simplesmente param e não conseguem explicar o porquê. 

Perder prazo também pode ser um bom exemplo. Muitos, mesmo sabendo da importância de um compromisso, deixam vencer prazos, prorrogam, perdem de novo, até não conseguirem mais recuperar. Com isso acabam perdendo não só o prazo mas também credibilidade, oportunidades, diplomas, carteiras, receitas médicas etc. Precisam daquilo, mas não reagem dentro do prazo estabelecido. 

Outra manifestação desse mecanismo se dá no campo do amor. A boca diz que quer arrumar um par afetivo, mas na prática arruma-se apenas pessoas indisponíveis para o amor. Ora comprometida, ora inacessível, ora fogo de palha e, quando encontram uma pessoa que realmente vale a pena ocorre um desinteresse repentino e perdem a empolgação por alguma justificativa frívola como mau gosto para se vestir, hábitos banais ou então nem sabem explicar. 

Um comportamento também muito executado é quando a boca fala que quer uma coisa e a ação é diametralmente oposta a ela. Por exemplo: querendo economizar, gasta mais; precisando acordar cedo, sente mais sono; quando começa a dieta, come o dobro.
 
A nossa vida está permeada de sabotagem e boicote feitos por nós mesmos, sem nem a necessidade de ter inimigos. Para mudar isso é preciso coragem para perder esse grande medo da felicidade e um sério compromisso consigo mesmo para cumprir, na prática, o que a boca tanto afirma que quer na fala. 

 

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