Simone DemolinariPsicanalista com Mestrado e dissertação em Anomalias Comportamentais, apresentadora na 102,9 e 98 FM

Podemos ser responsáveis pelas dores do outro?

23/07/2020 às 06:00.
Atualizado em 27/10/2021 às 04:10

Essa semana recebi algumas perguntas por meio da rede social e uma especialmente me chamou a atenção: "Podemos ser causadores das dores em outra pessoa?”

É curioso observar como a percepção de vida varia de pessoa para pessoa. Cada opinião é única e talvez isso faça a vida ser algo tão fascinante ao mesmo tempo aterrorizante. O que parece óbvio para uns é um equívoco para outros. 

Sobre a pergunta em questão, penso que toda relação humana de respeito implica na responsabilidade de saber que o que eu fizer pode impactar diretamente (positiva ou negativamente) na vida do outro. Seja em família, no trabalho, na amizade ou no amor, temos sempre a oportunidade de sermos promotores de momentos felizes, assim como de dores e sofrimentos. 

Uma pessoa que não pensa ter essa influência sobre a vida do outro e por isso fala e faz o que bem entender sem nenhuma preocupação de como aquilo irá repercutir é porque nela predomina o egoísmo (apego excessivo aos próprios interesses). 

Algumas pessoas, sob a justificativa de estar falando a verdade, ofendem e magoam quem mais amam. 

É preciso compreender que nem sempre a sinceridade é uma virtude. Se eu disser para uma pessoa que ela é gorda, irei magoá-la gratuitamente. Não estou dizendo com isso que é conveniente mentir. Mas dizer o que pensa, sem nenhuma preocupação se aquilo irá ferir o outro, está longe de ser uma vantagem. 

Se o que eu for falar não edificar o interlocutor, preciso considerar a opção de me calar. Ser honesto e sincero não me dá o direito de dizer tudo que penso. A verdade não subtrai o caráter ofensivo da afirmação.

Sócrates, filósofo grego, nos deixa a reflexão das três peneiras antes de falar qualquer coisa: 
A primeira peneira é peneira da “verdade”; a segunda, a da “bondade”; e a terceira, a da “necessidade”. Se passou pelas três peneiras, conte, pois eu, você e o outro iremos nos beneficiar. Caso contrário, guarde para você. 

Precisamos nos preocupar com isso se quisermos agir de modo construtivo nas nossas relações, pois é quase impossível nos relacionarmos completamente blindados em relação aos comentários e atitudes do outro. Relacionar implica, entre outras coisas, se importar com o que o outro fala, pensa e sente a meu respeito, ou seja, dependo parcialmente da percepção do outro para manter meu bem-estar. 

Quando convivo com alguém que me critica, ironiza, tem atitudes desleais, não passa confiança, degusto grande sofrimento. Ao passo que, quando convivo com o oposto disso, tenho sensação de acolhimento e segurança. Uma grande felicidade.

Portanto, seria um equívoco me eximir da responsabilidade de ser causador de dores e também alegrias nos outros. Temos sempre a opção de escolher. 

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