Simone DemolinariPsicanalista com Mestrado e dissertação em Anomalias Comportamentais, apresentadora na 102,9 e 98 FM

Por que me apaixono sempre pelas pessoas erradas?

Publicado em 07/07/2022 às 06:00.

“Gostaria de entender meu comportamento, pois por quem gosta de mim eu não tenho nenhum interesse, ou tenho e perco rapidamente, mas quem me despreza a coisa muda, brota uma atração incontrolável por essa pessoa. Será que eu gosto de sofrer? Como explicar esse meu comportamento que só me faz mal?".

Algumas pessoas, principalmente aquelas movidas por desafios, sentem-se atraídas por conquistas difíceis. São acometidas por uma espécie de prazer quando percebem um contexto desfavorável e por isso se conectam com situações onde há grandes obstáculos. 

No campo das conquistas afetivas, o interesse parece ser  intensificado quando encontra o desprezo - um elemento poderoso e afrodisíaco. A indiferença funciona como uma afronta para o ego que interpreta como uma ofensa não ser interessante para o outro.  Nessa hora a conquista vira uma questão de honra. Como dizia Cazuza: “o seu amor é uma mentira que a minha vaidade quer".

É comum acontecer essa atração pelo desafio no início da relação quando o objeto de desejo apresenta alguma resistência. Uma vez conquistado, e acabado o desafio, vem junto o desinteresse. Mas existem relações onde o desafio da conquista é constante e a pessoa tem que continuar lutando a vida inteira para conquistar o outro, que parece inconquistável. É o caso das relações tóxicas: nesse caso o obstáculo nunca acaba, pois ele é a própria relação.

É interessante observar que quanto mais complexo o desafio, mais ele é confundido com o sentimento de amor. O que é um equívoco. Pessoas movidas pelo desafio se apaixonam pela conquista e não pela pessoa que está sendo conquistada. Mas isso não é um processo claro, mesmo porque a conquista e o conquistado estão numa mesma pessoa. Um exemplo disso são as relações extraconjugais, que geralmente há uma química atrativa forte e um desafio enorme que envolve disputa, competitividade, clandestinidade, elementos muito desafiadores. Todo esse conjunto mantém a relação por anos permeada de muita paixão, porém é comum de acontecer de a pessoa casada se separar e a relação não ficar tão interessante quanto era antes. Um importante ingrediente acabou: o desafio; o obstáculo. 

Pessoas que se interessam pelas pessoas erradas, ou seja, essas que gostam de desafio, costumam também se não se interessar por aquelas livres de problemas ou impedimentos, as saudáveis. Estas, as que estão disponíveis para o amor, não lhe parecem nada interessantes; ao contrário, parecem sem graça. O que demostra uma grande imaturidade emocional, pois no campo dos afetos a relação saudável está alicerçada no aconchego que o amor traz, no acolhimento sereno, no compartilhamento das afinidades e planos em comum. Em resumo, na paz. Ja o desafio está na contramão disso. 
 

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