Simone DemolinariPsicanalista com Mestrado e dissertação em Anomalias Comportamentais, apresentadora na 102,9 e 98 FM

Qual é a sua prisão?

15/11/2017 às 15:52.
Atualizado em 02/11/2021 às 23:43

Deixamos de ser livres quando vivemos encarcerados em regras, protocolos, ditaduras social, familiar, cultural e em nós mesmos. A prisão nos retira um bem de grande valor: a liberdade.


Não é sempre que percebemos as prisões. Somos tão condicionados, que muitas vezes, acostumamos com ela, chegamos ao ponto de até gostar e sentir falta. Tal qual um passarinho na gaiola: depois de muitos anos preso, você pode abrir a porta, que ele não quer sair.


Alguns exemplos de prisões do cotidiano: 


- Vícios: qualquer vício aprisiona o dependente. Tanto aquele que não consegue sair de casa sem beber, quanto aquele que não consegue dormir sem o remédio, ficar sem o cigarro ou celular. Em casos mais severos, o vício comanda a vida do usuário que perde sua autonomia e passa a viver de acordo com as regras daquilo que depende.


- Dependência emocional: Os dependentes emocionais estão sempre precisando de alguém para ajudar, para fazer companhia, para dar segurança, apoio, para ir junto. Há uma nítida incapacidade em fazer algo sozinho, é preciso o outro para obter conforto e ganhar confiança. 


- Dependência financeira: Talvez essa seja a mais simples das prisões, por ser  tão facilmente percebida. 


- Preocupação com a imagem física: Viver refém do julgamento próprio e alheio, faz com que um indivíduo dê uma excessiva atenção à aparência. O prisioneiro da imagem, evita determinados lugares por não ter a roupa ideal. É comum pessoas preocupadas com a imagem, gastarem mais dinheiro do que podem com bens materiais; uma tentativa de compensação. 


- Preocupação com a reputação: Reputação por definição, é o conceito que o outro tem a meu respeito. Quem vive preocupado com isso vive limitado. Quanto maior a preocupação, maior o receio - isso explica alguns medos clássicos, como medo de falar em publico, medo de arriscar, medo de fracassar, medo de receber um “não”, vergonha. Há famílias que mudam de cidade ou até de pais depois que passam por situações constrangedoras. Não suportam viver com a “imagem arranhada”, preferem recomeçar  no anonimato. Pessoas mais desapegadas da imagem ideal, vivem mais livres, pois sabem que tanto o julgamento alheio, quanto o seu próprio, não significa o seu caráter. 


- Viver o sonho dos pais - a expectativa de sucesso, faz com que muitos filhos se sintam obrigados a seguirem os passos dos pais, escolhendo a mesma profissão ou a profissão desejada por eles.  Mais do que satisfazer a si profissionalmente, muitos estão presos à necessidade de satisfazer os desejos dos pais, muitas vezes, sutilmente impostos. 


- Ciúme - quem sente ciúme fica preso à tensão, não relaxa. O ciumento torna-se hiper vigilante e está acorrentado na ausência de paz. 


As prisões de grade invisível nos faz mais presidiários do que os próprios presidiários. Nos presídios, as penas são fixadas e tem prazo para acabar. Já fora deles, a pena é autoimposta, e pode durar uma vida inteira. 
 

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