Crescemos ouvindo que devemos “ser o melhor”: melhor aluno, melhor jogador, melhor amigo. Desde pequenos somos encorajados a lutar pelo primeiro lugar e em determinados casos, o incentivo à disputa é até mesmo dentro de casa : “você precisa ser melhor que seu irmão”.
Na escola não é diferente, brincadeiras como jogos, gincanas, concursos e até as notas são grandes estímulos que atuam diretamente na formação do nosso traço competidor. Culturalmente em nossa sociedade a competitividade é estimulada e muito bem aceita: um indivíduo é medido pelo o que ele tem em comparação ao outro. E nessa medição, quanto mais, melhor. Nos avaliamos e somos avaliados a partir da comparação com os vizinhos do prédio, do bairro, os outros pais da escola, colegas da mesma faixa etária etc. Através desse constante olhar para o lado alimentamos a competição sutil e silenciosa.
Já no mundo corporativo a sutileza cede espaço à cena principal e a competição atinge seu resplendor. Promoções e incentivos financeiros são destinados aos ganhadores: metas, prêmios, disputas, avaliações e outros medidores de performance, por vezes tão agressivos que podem levar um funcionário a Síndrome de Burnout.
Além disso, em nossa vida privada travamos uma disputa com a nossa própria pessoa. Um bom exemplo disso são alguns aplicativos de esportes que, com o objetivo de medir nosso desempenho, nos estimulam a superar o nosso limite anterior. Ou seja, sou eu disputando comigo e quando perco de mim fico me sentindo inferior a mim mesmo.
Frente a tantos estímulos competitivos desde a infância até a vida adulta, a nossa tendência é nos tornarmos lutadores obstinados. Isso dentro de um contexto saudável nos traz grandes benefícios, mas a questão que quero tratar aqui é quando a a persistência vira insistência e a obstinação vira obsessão; doença.
Ser perseverante é uma qualidade que não nos faz desistir dos nossos objetivos com facilidade, uma ótima característica por sinal, mas quando ela passa do ponto vira obsessão: uma busca desenfreada e interminável que gera grande sentimento de insatisfação e frustração.
Há pessoas que quando entram no modo obsessivo perdem o limite do razoável e atentam contra a própria dignidade. São regidos por uma premissa interna de não se permitirem perder, com isso vão além do prejuízo. São como os jogadores da roleta-russa, onde a pseudo demonstração de bravura vira um risco à própria vida.
Dai a importância de estabelecer limites. Devemos sempre nos perguntar: até onde estou disposto a ir nessa situação? Conheço pessoas que esperaram por 10 anos o amante se divorciar da esposa; outros, esperaram por 8 anos uma promoção profissional que nunca chegou. Outros carregaram nas costas, sozinhos, uma relação afetiva doentia comprometendo a saúde física e psíquica.
É preciso ficar atento, pois nem sempre a luta se justifica. As vezes, a nossa maior vitória consiste em parar de tentar.