Há pessoas cuja forma de conversar traz consigo a tônica da reclamação. Estão sempre expressando descontentamento, insatisfação ou incômodo sobre algo.
Geralmente o “reclamão” é um indivíduo negativo, mal-humorado e vitimista, que não faz nenhuma ação prática para mudar a não ser verbalizar sua indignação a quatro cantos.
A vitimização se dá por meio da constante busca por culpados - sempre a responsabilidade é do outro, e ele, quem reclama, está sempre na situação do prejudicado. Com o tempo, esse comportamento vai virando um hábito alicerçado num pensamento de padrão negativo difícil de ser modificado.
Da mesma forma, funciona o “pensamento negativo” - que é a base da reclamação. A maneira de interpretar os fatos (positiva ou negativa) de alguém segue a mesma linhagem familiar. Pais negativos, além de estimular o medo, ainda acabam passando a mesma forma de pensar para os filhos, implantando ali uma linha de raciocínio que se incorpora como padrão.
Ser negativo traz grandes prejuízos à vida de um indivíduo, pois além de estar sempre modulado para baixo, ainda dificulta as relações interpessoais - ninguém quer ficar próximo aos profetas do apocalipse. Além disso, a perspectiva negativa cria sempre um clima de insegurança, medo e desânimo, algo muito pesado e desanimador para a vida da própria pessoa.
Já a reclamação, apesar de igualmente exaustiva para quem ouve, costuma trazer algumas vantagens para quem pratica, como, por exemplo, atenção. É muito comum o ouvinte se comover com quem se queixa, por isso proporcionando aconchego e acolhimento, dando àquela pessoa uma atenção maior.
Há também ganhos de privilégios. Há um ditado que diz: “Quem não chora não mama”, o que acho particularmente uma inversão de valores. Há empresas que privilegiam somente os clientes que reclamam ou aqueles que dão muito trabalho. Mas não deveria ser o contrário? Aqueles que não causam tumulto e são cumpridores de regras deveriam ser os mais privilegiados. Mas infelizmente não é assim que funciona nem no mundo organizacional nem na vida. É muito comum, por exemplo, pais darem mais vantagens aos filhos que dão mais preocupação e deixarem de lado aqueles que administram bem a própria vida.
Esse tratamento diferenciado aos reclamões é um estímulo que reforça ainda mais tal atitude, fazendo com que ao invés de evoluírem acabem sofisticando a reclamação, se tornando pessoas ingratas incapazes de perceberem as coisas boas.
Com o tempo essa conduta vira um vício emocional, que o indivíduo até consegue largar, porém não quer abrir mão de obter as vantagens.