Simone DemolinariPsicanalista com Mestrado e dissertação em Anomalias Comportamentais, apresentadora na 102,9 e 98 FM

Reflexões sobre o Carnaval

20/02/2020 às 09:53.
Atualizado em 27/10/2021 às 02:41

Para a alegria de uns e tristeza de outros, começou o Carnaval. Uma festa que não tem origem brasileira, mas foi aqui que alçou voos altos. Para uns, o Carnaval significa dias de descanso, para outros uma divertida festa e para uma outra turma é a permissão para o vale tudo. 

Isso ocorre pois vivemos numa sociedade julgadora e hipócrita. Para não ser marginalizado, o indivíduo precisa manter uma “conduta social”. Já no Carnaval a coisa muda de figura, há uma espécie de “salvo conduto” em que o freio moral é afrouxado autorizando a retirada da máscara cotidiana.

Saem as máscaras e entram as fantasias

Cada vez mais organizados e criativos, os blocos de rua são os protagonistas da festa. Isso mudou ao longo do tempo. Antigamente, o sofisticado era o Carnaval nos clubes. A rua era apenas para quem não podia pagar. Atualmente, a diversão ficou democrática. Nos blocos de rua, todos podem participar.

Alias, o Brasil já apareceu como recordista no Guinness Book, o livro dos recordes, por ter o maior bloco carnavalesco do mundo, o Galo da Madrugada, de Recife. As marchinhas carnavalescas, que ficaram fora de moda por muitos anos, se encontram em alta, um evento à parte com direito a concurso. 

Outro aspecto importante da festividade tem a ver com a trégua da rotina diária e a capacidade de “anestesiar” a realidade. É uma forma de abstrair os problemas e substitui-los pela euforia sem o peso da culpa. Essa trégua traz um alívio, muitas vezes fundamental, para a pressão do dia a dia. Não há contas para pagar - afinal o banco também não abre. 

A origem da palavra “Carnaval” vem do latim “carnis valles” - “prazeres da carne”. Era um momento em que as pessoas se esbaldavam por quatro dias para aguentar os próximos 40 de jejum, a Quaresma. Mas a tradição da abstinência tem, cada vez mais, se perdido com o tempo. O que começa mesmo após o Carnaval é o funcionamento do país, que até então anda em marcha lenta. 

Aliás, o Brasil tem fama de “país do Carnaval” não é à toa: a política é uma farra, os escândalos apoteóticos, o andamento rítmico abre alas para a injustiça e a costumeira impunidade. Os políticos corruptos continuam sambando na cara da sociedade e os trabalhadores honestos precisam rebolar mais que passistas para dar conta de pagar tantos impostos.

A cadência do samba dá lugar à decadência de um país depauperado. Harmonia não há mais e no quesito evolução o destaque vai para a violência urbana. Uma lástima! Nosso povo alegre e acolhedor merece parar de dançar o Carnaval da roubalheira e brincar apenas na merecida festa de rua. Nada mais justo!

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