Simone DemolinariPsicanalista com Mestrado e dissertação em Anomalias Comportamentais, apresentadora na 102,9 e 98 FM

Três comportamentos que dificultam o relacionamento interpessoal

Publicado em 27/03/2025 às 06:00.

Em um mundo cada vez mais conectado e paradoxalmente distante, se relacionar se tornou um desafio. Ao mesmo tempo que existe a vontade de ficar sozinho e ter pouca convivência social, também há muita queixa de solidão. 

Com isso, é cada vez maior o número de pessoas que selecionam um pequeno grupo de amigos para compartilhar momentos agradáveis. Mas encontrar pessoas com afinidade de valores e de gosto não é fácil. Temos muitos amigos e familiares dos quais gostamos, mas que são pessoas de temperamento difícil e isso torna a convivência mais complicada. 

Elenquei três comportamentos que dificultam o relacionamento interpessoal:

Pessoas exclusivistas: aquelas cuja forma de se relacionar é exclusivista. Manifestam um descontentamento quando não se percebem como prioridade. Não gostam que os amigos tenham outros amigos e muito menos quando não recebem deferências.

São, por definição, ciumentos. O ciúme é uma emoção que deriva do medo de ser trocado, esquecido ou substituído, fazendo com que a pessoa se autorize a ter uma reação de posse sobre a vida da outra. O ciumento é passional e isso faz com que ele opere no baixo limiar da cognição, sentindo muita raiva quando é contrariado - ama e odeia ao mesmo tempo.

São melindrosos e ficam constantemente sentidos quando não são considerados primeiro. Para evitar um clima ruim, quem tem amigo ciumento acaba tendo que lhe prestar contas para que não haja um mal estar na relação. Ciúmes, seja na vida afetiva ou na amizade, é um comportamento possessivo que tira a leveza das relações e traz um peso extra, tornando complicado tudo que poderia ser mais fácil.

Mas é preciso abrir parênteses para uma observação importante: ciúmes, quando manifestado na relação afetiva, nem sempre é culpa de quem sente, por vezes pode estar sendo estimulado pelo outro para o afago do próprio ego. Se esse for o caso, cabe a quem está sofrendo saber como vai lidar com a situação. 

Carência emocional: pessoas carentes são dependentes por natureza, arrumam sempre uma forma de prender o outro a si, seja demandando coisas, seja querendo viver a vida do outro ou que o outro viva a sua. Funciona como um saco vazio que não para em pé, para ser apoiado ou preenchido.

O carente é incapaz de se satisfazer em si mesmo, está sempre despejando seu vazio existencial para que o outro preencha. A carência emocional pode se manifestar de diversas maneiras: cobrança, demandas, necessidade de ser reconhecido, aplaudido, ouvido.

Geralmente, o carente tem dificuldade de manter um relacionamento saudável - ora gruda demais, ora fica com raiva e se afasta. Há também aqueles que manifestam carência por meio da generosidade, proporcionando favores e regalias, mas não pela bondade, e sim como uma forma de colocar o outro em “dívida" consigo.

Cuidado com a bondade recebida gratuitamente, ela pode custar caro. 

Soberba: um sentimento de superioridade sobre os demais. Mas nem sempre essa conduta se manifesta na forma clara de arrogância. Quando é assim, já é péssimo, mas ao menos conseguimos saber nitidamente com quem estamos lidando.  A pior forma é quando a soberba ocorre de forma sutil, travestida num rico disfarce: são aqueles que rebaixam o outro sem ele perceber. Que o colocam numa condição de mendicância, dificultando o acesso e fazendo com que ele se humilhe como se estivesse recebendo um favor. 

Seja por exclusivismo, carência ou soberba, pessoas que se relacionam dessa maneira demonstram grande fragilidade emocional. Aos menos resistentes, a terapia é uma boa indicação. 

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