Simone DemolinariPsicanalista com Mestrado e dissertação em Anomalias Comportamentais, apresentadora na 102,9 e 98 FM

Viciados em problema

SIMONE DEMOLINARI
almanaque@hojeemdia.com.br
21/07/2023 às 13:01.
Atualizado em 21/07/2023 às 13:06

Há pessoas cuja convivência é fluida e fácil, enquanto outras parecem não conseguir viver em harmonia, estão sempre envolvidas em algum tipo de problema. Estranhamente, dizem que detestam entrar em confusão, mas volta e meia estão envolvidos em alguma. Gostam de jogar a culpa no outro e se isentar da responsabilidade de ser o principal causador. 
O erro de quem convive com pessoas assim é tentar modificar seu comportamento. Além de travarem uma guerra muito desgastante, ela é praticamente perdida, isso porque existem fortes motivos para que alguém seja assim: 

Ganho secundário: há uma vantagem na postura de quem sai pela vida resolvendo os problemas através de confusão. Ocorre que a outra parte envolvida, querendo encerrar o assunto, acaba cedendo e fazendo a vontade da pessoa conflituosa. Esta, por sua vez, sai ganhando o que queria e, mesmo assim, não se mostra satisfeita e continua reclamando. É um jogo psicológico massacrante, em que a pessoa problemática deixa o outro com um permanente sentimento de débito. 

Vaidade: a vaidade emocional é um sentimento de importância em que o indivíduo se sente superior aos demais e merecedor de deferências. Dessa forma, não suporta ter que se render às regras de todos, quer obter um tratamento diferenciado como se fosse o tal “alecrim dourado”. Quando precisa se submeter às condutas de pessoas comuns, arruma confusão e cria problemas. 

Carência: a vontade de receber afeto pode ser manifestada através de brigas. Isso ocorre geralmente com pessoas que gostam de se mostrar fortes e autossuficientes, mas no fundo escondem um buraco de carência. São verdadeiros blefes emocionais; buscam por acolhimento, amor e carinho, mas escolhem a forma mais difícil: criando problema. 

Se sentem vivos no caos: é verdade que aprendemos a viver resolvendo situações complicadas e desafiadoras. Com isso, desenvolvemos nosso instinto de sobrevivência. Algumas pessoas não conseguem desativar esse modo de viver e seguem em constante estado de alerta, sempre prontos ao combate. Estes se sentem vivos quando estão em duelo (quase como fosse uma missão) e murchos quando estão na calmaria. Se entediam na paz e se excitam na guerra. 

Masoquismo: termo usado para designar o comportamento de uma pessoa que sente prazer a partir da dor e/ou do seu próprio sofrimento. É difícil de aceitar que alguém possa gostar de sofrer, mas a questão não é simples assim. Aliás, a trama mental é muito mais sofisticada do que pensamos. Fato é que se o nosso comportamento persiste ou reincide em condutas autodestrutivas, isso pode revelar um prazer oculto na dor, um masoquismo estrutural. Quem não gosta de sofrer se livra do problema, quem gosta vive nele. 

Não merecimento: algumas pessoas introjetaram a infelicidade como natural da vida. Se tornaram assim geralmente pela criação que tiveram, onde a autoestima não foi estimulada, ao contrário, foi castrada. Com isso, cresceram acreditando que não são merecedoras e acabam sabotando a própria felicidade. São ótimas pessoas, mas permissivas, passivas, boazinhas e acabam atraindo muitos problemas. 

É preciso estar atento aos nossos comportamentos e buscar através de novas condutas reparar aquilo que não está nos fazendo bem. Temos obrigação de nos cuidar, ninguém fará isso por nós. 

A psicanalista escreve neste<ql>espaço às quintas-feiras

© Copyright 2024Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por
Distribuido por