Simone DemolinariPsicanalista com Mestrado e dissertação em Anomalias Comportamentais, apresentadora na 102,9 e 98 FM

Você é feliz ou finge ser?

31/01/2018 às 13:53.
Atualizado em 03/11/2021 às 01:04


É difícil chegar a um acordo sobre o que é felicidade, por isso costumamos associa-la ao prazer. O que é um grande equivoco. O prazer é instável, e a sensação provocada, logo se torna neutra ou até desprazeirosa. Por exemplo: saborear um prato preferido pode ser uma grande fonte de prazer, saborea-lo todos os dias pode nos levar à repulsa. O prazer se exaure com a rotina e logo em seguida vem o tédio e a nova necessidade de voltar a sentir prazer. Um buraco sem fundo, que estimula inquietude e ansiedade, sentimentos opostos a sensação de felicidade. 

Ao contrário do que muitos pensam, a felicidade não está na euforia. Ela está mais próxima da calmaria - um estado de plenitude e equilíbrio emocional que gera uma sensação de paz e bem estar consigo. 

O psicólogo Mihaly Csikszentmihalyi denominou de “autotélicas” as pessoas que ele considera as mais felizes. Segundo ele, são indivíduos que precisam de poucos bens materiais, pouco entretenimento, lazer, pouco conforto, poder ou fama, sendo mais voltadas para si não se sentindo ameaçadas ou seduzidas pelas recompensas externas. 

Isso faz com que esses indivíduos não sintam um vazio existencial, ao contrário, sentem- se completos e satisfeitos com tudo ao seu redor, pois suas motivações são sempre internas. Daí a origem da palavra autotélico – “auto” que significa “por si mesmo” e “telos” que significa “fim”. Pessoas autotélicas tendem a registrar permanentemente estados emocionais positivos. Sentem que sua vida é mais significativa, pois, para elas, o processo já é o próprio resultado. Possuem a competência de viver de maneira independente e com autonomia emocional. Estão inteiros em si, independentes dos eventos externos.

Sendo assim, os indivíduos de personalidade autotélicas sentem felicidade em qualquer atividade, da mais útil a mais inútil; da mais simples a mais sofisticada, incluindo desde atividades criativas, música, esporte, jogos, aprendizado, hobbies até estudar, dirigir, limpar a casa, entre outras. 

Este conceito nos ajuda a entender pessoas com alto nível de felicidade mesmo sem grandes conquistas materiais e financeiras. Decifra também a atitude daqueles que abandonam altos salários em busca de algo que faça mais sentido para sua vida. 

No entanto, é preciso ficar atento às seduções e promessas de felicidade que são vendidas socialmente através de imagens e fotografias. Ser feliz é uma habilidade que pode ser desenvolvida, porém, está longe da autoafirmação e exibicionismo.  Depende de esforço cotidiano e um bom nível de autoconhecimento. Aliás, se autoconhecer deveria ser um exercício praticado diariamente por todos. Quanto mais mergulhamos em nós, mais competentes ficamos  para gerir, com honestidade, nosso complexo mundo interior. 

Como bem nos lembra Shakespeare em Hamlet: “seja fiel a si mesmo e jamais precisará ser falso com ninguém”

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