Simone DemolinariPsicanalista com Mestrado e dissertação em Anomalias Comportamentais, apresentadora na 102,9 e 98 FM

Você é mais um pensador ou um realizador?

Publicado em 09/03/2023 às 06:00.

Diz um ditado popular: “quem pensa não casa”. Sim, quem pensa não só não casa como também não tem filhos, não abre uma empresa, não recomeça, não assume novos desafios, etc.

Pensar demais pode levar nossa mente a um mecanismo sutil de autossabotagem. Ao cogitar várias possibilidades mentais nossa cabeça irá acordar todos os nossos medos e também as fantasias. A verdade é que nossa capacidade de pensar é muito diferente da realidade -  tanto para mais, quanto para menos. Ou seja, os pensamentos nos levam a equívocos e ainda nos roubam a energia de realizar. 

Vamos ao caso de Maria:

Conheceu um rapaz e avaliou como as vidas de ambos eram diferentes: ele, de família de alto nível social, estudou em boas escolas, e ela, de origem mais simples. No pensamento de Maria, um relacionamento entre os dois não tinha nenhuma chance de dar certo. Ela já se imaginou passando situações onde se sentiria constrangida por não se sentir inserida nesse contexto. Se casassem seria outro problema, pois a diferença traria situações problemáticas. Filhos, então, nem se fala.

Concluiu que o melhor seria encerrar aquele romance que nem havia começado. Conheceu outra pessoa e novos problemas surgiram na imaginação de Maria. Esse já não tinha a classe social tão diferente, porém ja havia sido casado com uma prima distante (dela) e tinha dois filhos. Outra questão surgiu: o parentesco e questões familiares que ela entendia não serem agradáveis. Além disso, teria que lidar com uma grande diferença de idade e ainda duas crianças que não aceitavam o fim do casamento dos pais. Concluiu que o melhor seria terminar aquele romance que nem havia começado. 

Do outro lado desse extremo, temos Ana, que também pensava demais, mas, diferentemente de Maria, era muito otimista e seus pensamentos floreavam o provir. Era viciada em imaginar o que as pessoas estavam pensando e suas conclusões eram sempre permeadas de fantasias favoráveis. Era chamada pelos amigos de "Alice noPaís das Maravilhas”.

Os exemplos das duas, mesmo sendo extremos, têm algo em comum: ambas têm o mundo imaginativo desenvolvido e acreditam que o que pensam está alinhado com a realidade. Aliás, nos longos anos de profissão, dificilmente ouço relatos de que o pensamento é desconexo com a verdade, ao contrário, a maioria afirma que seus pensamentos são praticamente premonições. 

É preciso ter cautela com os pensamentos. Eles podem estar a serviço de nos distrair disfarçados de uma “capa protetora”. Além dos enganos a que nossa mente pode nos conduzir, ainda há um elemento poderoso que é o sucesso da não realização. Isso é, enquanto não abro aquela tão sonhada empresa, ela continua sendo uma ideia brilhante na minha cabeça, ou seja, serei “bem sucedido” na minha ideia genial. Mas, a partir do momento em que ela acontece na prática, vêm junto a vulnerabilidade e o risco do fracasso. 

O pensamento excessivo é um comportamento que sabota nossa ação. Isso não quer dizer que pensar de menos seja a solução, mas sim o equilíbrio entre planejar e agir. Muitos desconhecem o poder da ação. 
Até nas doenças psiquiátricas o movimento de quem age contribui na melhoria desse indivíduo. Hajam vista as pessoas que movimentam o corpo mesmo sem tanto entusiasmo. Sem dúvida elas estão muito à frente de quem sucumbe ao pensamento de desânimo.
 
Uma boa dica é: para as coisas pequenas e que conferem bem-estar, não pense absolutamente nada, só vá. Para as coisas mais sérias, gaste metade do tempo pensando e a outra metade executando, enfrentando os medos e agindo. Gastar tempo sendo um executor é bem mais vantajoso do que gastar o mesmo tempo sendo um sonhador. 
 

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