Simone DemolinariPsicanalista com Mestrado e dissertação em Anomalias Comportamentais, apresentadora na 102,9 e 98 FM

Você facilita ou piora a própria vida?

SIMONE DEMOLINARI
almanaque@hojeemdia.com.br
21/07/2023 às 11:34.
Atualizado em 21/07/2023 às 11:38

Muitas vezes reclamamos das dificuldades da vida sem prestarmos atenção ao fato de que nós mesmos somos causadores de tais complicações. Por incapacidade, desconhecimento ou fraqueza emocional, criamos problemas e sofrimentos intensos desnecessários. Então, vamos fazer algumas reflexões sobre situações que podem melhorar ou piorar a nossa vida. 

Suportar sofrimentos evitáveis. Existem dois tipos de dores: as inevitáveis, como falecimento de entes queridos, diagnóstico de doenças graves, demissões inesperadas e tragédias de uma maneira geral; e as dores evitáveis, como casamentos ruins, amizades falsas, empregos abusivos, medos infundados, submissões, etc. Quem consegue lidar bem com as situações inevitáveis da vida demonstra grande sinal de força e equilíbrio emocional. Já quem suporta as dores que poderiam ser evitadas ou modificadas demonstra uma notória fraqueza. Devemos usar nossa força para aceitar as dores inevitáveis e a mesma força para nos desvincular daquilo que nos faz sofrer, mas pode ser modificado. Agir assim alivia sobremaneira os problemas da vida. 

Outra questão que merece atenção é a nossa dificuldade em nos posicionar perante algo que nos magoa. Isso ocorre pela dificuldade de falar com clareza sobre os nossos sentimentos, e ao invés disso, nos enganamos dizendo que não nos importamos com tais atitudes. Um exemplo é quando, em família, alguém usa da intimidade para fazer chacota, colocar apelidos pejorativos ou desmerecer a outra pessoa através de “brincadeiras” maliciosas. Quem sofre com esse tipo de situação, seja em família, na amizade ou no ambiente de trabalho e, ao invés de se posicionar (falando ou se afastando) opta por “largar para lá”, não por não se importar, mas sim para não querer criar mais problemas, acaba se ferindo duas vezes: uma pelo deboche e outra pela própria omissão. Não devemos sair pelo mundo brigando com tudo e todos, assim como não devemos permitir sermos depositário de agressividades bem intencionadas. 

Na mesma vertente temos a enorme dificuldade em falar “não”, porém isso está mais ligado ao medo de rejeição. Todos nós, de uma forma ou de outra, lutamos pela aceitação, mas uma coisa é querer ser aceito e outra é, por insegurança, assumir o papel de “bonzinho” que morre de medo de desagradar e com isso passa por cima de si em prol do outro. Viver dessa maneira é viver anulando a si próprio para não desagradar ninguém, o que é impossível. É uma forma pesada de viver a vida e de maneira altamente prejudicial para a autoestima. Uma frase de Shakespeare resume muito bem isso: “seja fiel a si mesmo e jamais precisará ser falso com ninguém”. Nada melhor que ser livre. 

Fazer rodeios ou inventar uma desculpa ao invés de falar a verdade também é outra situação que piora sobremaneira nossa vida. Claro que não nos convém sair por aí fazendo o papel do “super sincero”, afinal não há necessidade de magoar ninguém a pretexto de estar falando a verdade, mas, muito menos, deveríamos sair por aí inventando mentiras por falta de coragem de falar verdade. Um exemplo disso é quando somos convidados para algo que não gostaríamos de ir. Em vez de logo recusar e bancar tal negativa, começamos a nos esquivar dizendo “vou pensar e te falo”, e a partir daí inicia-se uma série de enrolações e mentiras. Essa forma de agir, além de desonesta com o outro, é desrespeitosa consigo. Um sinal de covardia e desonestidade. 

A psicanalista escreve neste espaço às quintas-feiras

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