Eu gosto de chegar bem mais cedo nas minhas palestras para, além de instalar e testar o material que vou utilizar, ficar observando as pessoas, ouvindo histórias e sentindo o público. E vou confessar que eu adoro dar palestra em cidades pequenininhas, distantes, de difícil acesso. As pessoas da localidade já chegam gratas, nos recebendo como convidados.
Numa andança que eu tenho feito com a equipe do Sicoob União Central, que possui atuação em diversos municípios mineiros, tive a honra de presenciar situações simples que me encheram de esperança e de ouvir histórias que me fizeram resgatar o sentido de humanidade.
No Serro, um senhor veio me abraçar ao final da minha fala, lamentando que a esposa não tivesse condições de saúde, naquela noite, de ter participado. Ele, que não anda sem ela, se disse um apaixonado. Relutou em ir aquela noite, pois a deixaria em casa enferma, mas a equipe da cooperativa é bem querida por ele e, por isso, resolveu fazer aquele esforço. Ele me dizia: “minha esposa tinha que ouvir você, eu não estou gabaritado pra passar pra ela tudo isso que você disse aqui”. Uma funcionária do Sicoob veio com um marmitex, abraçou ele e disse que era para levar para a esposa. Visivelmente emocionado, ele agradeceu e foi embora, já que dirigiria até Santo Antônio do Itambé, uns quilômetros dali.
Quando ele se foi, a jovem que fez a marmitinha com salgadinhos reforçou o que já havia sido dito e demonstrado: “ele tem um amor tão grande pela esposa, que a gente teve que convencê-lo a vir”.
Neste mesmo dia tive a oportunidade de conhecer a Christiane Brandão, que produz o queijo Maria Nunes, motivo de orgulho para todos nós, pois já trouxe da França várias medalhas para o Brasil, incluindo uma de ouro. O queijo Maria Nunes é produzido por mulheres e a sua proprietária, uma potência de mulher, é também um encanto de pessoa.
No dia seguinte, ainda na deliciosa cidade do Serro, onde todo mundo te recebe como se você fosse de casa, fui à Escola Estadual Joaquim Salles falar para jovens dos primeiros anos do Ensino Médio. Dois alunos desceram antes para ajudarem a trazer as cadeiras que seriam colocadas no pátio. Depois vêm as turmas, que com muito respeito vão se acomodando. Ao fundo, na cantina, as funcionárias se colocaram de pé para ouvir, com muita atenção. Eu tenho uma memória afetiva com as cantineiras de escola pública, do carinho e da atenção delas.
Terminada a palestra na escola, fomos para Gouveia. Era a minha primeira vez na cidade e a palestra foi num restaurante, comandado pela dona Lindeia, que construiu seu empreendimento aos poucos, de um sonho que foi crescendo e que hoje já está pequeno novamente, e será ampliado, para que mais pessoas tenham a chance de ter um emprego e outras tantas de desfrutarem um ambiente agradável.
Foi ali que conheci seu Geraldo, que foi criado como escravo e hoje tem sua serralheria na cidade. Ele não ganhou o livro de minha autoria que eu sorteio no final da palestra, mas veio até mim perguntar onde poderia comprar. Eu disse que ele receberia um naquele momento e que poderia autografá-lo. Emocionado, ele disse: “seria uma honra pra mim”. Na verdade, para mim é que é uma alegria poder dar um abraço naquele senhor, com sorriso sincero, que viveu coisas inimagináveis e que vai tirar um tempo para ler algo que eu escrevi.
Dia seguinte, a cidade da rota seria Curvelo, terra de pessoas que eu admiro, como a Ivete, criadora do Lacre do Bem, um projeto admirável que recolhe lacres de latinhas e troca por cadeiras de rodas. Quase mil cadeiras já foram entregues assim, desta forma, com o bendito lacre.
À noite, uma turma inteira de Marketing foi me assistir. Vibravam como se tivessem vendo uma sumidade no assunto. Fizeram questão de fotos no final e deixaram abraços carinhosos. Um casal me conta que o filho estava nos EUA e que eles já foram lá visitá-lo. Disseram-me que um palestrante foi a Curvelo e revelou, durante sua fala, que conheceu um restaurante em Nova Jersey, administrado por um filho daquela terra. Eles esperaram até o final para dizerem ao palestrante que além de filho da terra, o jovem empreendedor era filho deles.
O Cabral, um empreendedor que faliu, perdeu tudo, recomeçou e hoje tem uma fábrica de móveis rústicos, contou sua história através de um vídeo, exibido antes da minha fala. No término, ele e sua esposa me deram um abraço e se despediram. Dois minutos depois, volta o Cabral com uma tábua de madeira rústica, me abraça e diz: “para você se lembrar da gente”. De verdade, não há como esquecer quando o carinho é compartilhado. Disse ao Cabral que não era só pelo lindo presente, mas pela sua atitude que eu estava grato.