Numa procura constante pela felicidade, às vezes nem percebemos que ela vai aonde quer que a gente esteja, inclusive nos momentos de dor e sofrimento. Que ela é a intenção que move as ações, mas não a ação em si.
Uma fábula conta que um homem livre foi acorrentando por anos e quando conquistou novamente a liberdade se sentiu feliz com aquilo. Muitos filósofos já explicam, há anos, que a vida é feita de contrastes: só podemos entender a “infelicidade” quando reconhecemos que há momentos “felizes” em nossa vida. Só se reconhece o que perdeu quando deixou de ter e assim sucessivamente.
Desde pequenos ouvimos as histórias infantis que relatam uma vida com seus problemas, seja em Branca de Neve, Rapunzel, Cinderela - que carrego até hoje na mente o nome de “a gata borralheira”, dentre tantas outras. Mas, nesses casos sempre nos aliviamos no final, pois é lá que tudo dá certo.
Entendo que para o final dar certo, há de se construir durante o percurso e que o “viveram felizes para sempre” nem sempre deve ser descrito em quantidade de anos de vida que viveremos em plenitude de sentimos.
O “para sempre” de alguém pode ser um momento em que alcançamos o nosso “nirvana” possível e realizável. Não aquele em que nos tornamos luz, como Buda, mas que os nossos aprendizados nos fizeram ter uma nova mentalidade e postura.
O que nos diferencia dos animais é, em suma, a consciência. Assim, quando a maturidade, que não vem necessariamente com a idade, nos possibilita ter bom senso e discernimento, podemos começar a nos trabalhar para entender que a felicidade não é um destino onde aportaremos, em vida terrena, por longos e longos anos.
Posso até arriscar que, assim como a utopia, felicidade é algo que almejamos, mas serve mais como um norteador, nos guiando, do que como destino.
Assim como nosso corpo físico precisa de nutrientes para viver, a nossa “alma”, chamemos assim, precisa ser alimentada também. E esse alimento vem pela busca de novos hábitos, que estão ligados às virtudes. Desta forma, ao buscar a justiça, entendida por Platão como cada coisa no seu lugar, nada é mal no universo, estamos nos alimentando e mantendo-nos fortes.
Ao praticar atos de justiça, que coordena outras virtudes, como a benevolência e a generosidade, o indivíduo sente uma satisfação que é duradoura. Na prática: o chocolate e o refrigerante, para alguns, são fontes de prazer, que é passageiro e precisa ser continuamente reposto. A satisfação duradoura é fazer o que te cabe, dentro da humanidade, buscando a justiça (descobrindo que ela vai além de conceitos limitados a tribunais e júris).
Essa explicação prática é entendida, na filosofia, como a diferença do hedonismo, que é um prazer momentâneo, e a eudaimonia, que pode ser caracterizada como um alimento maior à alma, dando mais força à nossa vida.
Desta forma, reafirmo: a felicidade não é um destino fixo, onde um dia vamos desembarcar, mas são esforços contínuos de compreender tudo o que acontece em nossa vida, de alegrias a dores, como grandes oportunidades de aprendizado.
O nosso posicionamento frente a cada episódio da vida é que a torna, em certo ponto, triste, melancólica, com um vazio existencial ou sem esperança. Mas, também, há a possibilidade de cada vivência nos conduzir a um novo passo, novas perspectivas, satisfações indeléveis, que se acumulam e nos fazem bem.
Epicteto, filósofo estoico, deixou ensinamentos lindos registrados por seus alunos, no primeiro século da era Cristã. Ele pregava que “a vida virtuosa, de excelência moral, leva à coerência interior e à harmonia exterior”. E dizia mais: “a felicidade só pode ser encontrada dentro de nós”.
Lembro muito de ter lido uma obra do Rubem Alves, “Variações sobre o prazer”, em que ele fala que é a predisposição de mudar a forma como vemos as coisas que as transforma. Assim, há pessoas e coisas ruins que nos incomodam? Sim, há e haverá. Portanto, não espere delas mudança. Vamos entender o que nelas nos afeta e alterar o nosso posicionamento frente àquilo. É isso!