Vivemos momentos bem confusos, de grandes angústias e dúvidas, em que a ignorância, gerada pela falta de conhecimento, tem dominado a nossa cultura e gerado pessoas com valores bem frágeis, para não dizer duvidosos. Para alertar as pessoas sobre como se informarem melhor, recorri à amiga Lígia Fascioni, que escreveu recentemente em seu site: “...por que tantas pessoas de boa fé frequentemente disseminam notícias falsas, mesmo depois de tantos avisos? Ontem falei isso para a minha mãe e ela respondeu que não confere a notícia, como ensinei, porque acredita na pessoa que enviou. Entendo. Se a minha geração foi criada e educada para acreditar, imagina a dela?
Quando era pequena, credulidade era uma virtude, um elogio. Criança obediente, que não discute e não contesta, era o sonho de todos os pais. As pessoas crentes e ingênuas eram as boas; as desconfiadas eram as más. Com o tempo, os estudos e a vida, percebi a arapuca em que a gente tinha se metido. Desconfiar não somente é desejável, mas necessário ao nosso crescimento e até sobrevivência.
Mas ter uma opinião própria dá trabalho, além de ser arriscado, pois não se sabe a que conclusões chegaremos. Ao duvidar de um fato ou opinião, a gente precisa pesquisar, ler com atenção, checar fontes, encontrar contradições, comparar pontos de vista, enfim, gastar neurônios. Já acreditar não custa nada: é só escolher um ponto de vista que a gente acha simpático e fim. Zero neurônios envolvidos.
É claro que não dá para desconfiar de tudo e de todos o tempo todo; o gasto de energia seria insano e a gente ficaria paranóico. Então, como equilibrar a desconfiança e a credulidade? Cada um tem suas técnicas. Eu uso dois critérios:
Motivação: que motivos a pessoa/instituição tem para me transmitir uma informação equivocada ou distorcida?
Coerência: baseado no histórico do comportamento anterior dessa pessoa/instituição, dá para acreditar no que ela diz?
Mas confiar em blogs, correntes de redes sociais, notícias de partidos políticos e posts de Facebook é uma prática que ultrapassa o nível da ingenuidade; aí é preguiça de pensar nível hard mesmo. Há que se rever essa posição até para a própria segurança e saúde mental da pessoa.
(*) Palestrante, professor, autor de livros e idealizador do Tio Flávio Cultural