Tio FlávioPalestrante, professor e criador do movimento voluntário Tio Flávio Cultural.

Sesc: um convite à vida ativa aos 60+

Publicado em 25/08/2023 às 06:00.

A primeira vez que fui conversar com jovens alunos de uma orquestra de câmara, fiquei bastante emocionado em ver aquele empenho e amor à música. Meninos e meninas portavam seus instrumentos e fizeram uma apresentação surpresa após a minha palestra.

Enquanto tocavam, eu era presenteado com a seriedade alegre daqueles alunos, confirmando o que Nietzche dizia que a vida sem música é um erro.

Anos depois, visitei as turmas de dança e do coral jovem. Criancinhas empenhadas, com olhos atentos, participaram da palestra, em meio a adolescentes, ambos ansiosos em contar seus próprios casos e serem ouvidos.

Esses projetos são desenvolvidos pelo Sesc MG, que tem um tanto de outras frentes sociais que me encantam. A cultura é um braço forte da instituição e tem que ser incentivada cada vez mais, pois é a permissão ao acesso dos sonhos de tanta gente.

O Mesa Brasil, por exemplo, é uma inciativa que completa 20 anos de existência e que leva dignidade em forma de alimento a diversas instituições sociais que dependem daquelas doações para as principais refeições dos seus assistidos. De um lado, empresas doam aquilo que seria proximamente descartado por causa do prazo de validade, sejam alimentos ou itens de higiene e limpeza. Do outro, instituições cadastradas, com seriedade atestada, têm a alegria de poder buscar aquilo que hoje é um respiro de esperança para muita gente.

Tive a alegria de conhecer também um projeto que atende crianças das séries iniciais no contraturno da escola e que, para além de um novo turno de sala de aula, estão ali para serem estimuladas no convívio respeitoso e solidário e, também, em sua criatividade.

Mas, apesar de conhecer todas estas ações, eu nunca tinha tido a oportunidade de visitar o projeto voltado para homens e mulheres com idade superior a 60 anos, até que a equipe do Sesc da unidade Floresta me convidou para uma conversa com eles. Na verdade, com elas, pois a turma é, em sua maioria, de mulheres.

Logo cedinho um carro me buscou em casa. Vou conversando com aquela educadora, que explica com entusiasmo sobre o “+60”, projeto que estimula o convívio social entre os ditos idosos, mas que eu nomeio de “juventude prateada”, pois são pessoas acima de 60 anos e que mantém o ânimo da juventude, mesclado com a experiência que a maturidade burila em cada um.

Chegando à unidade, me apresentam os espaços físicos, as pessoas que ali trabalham, os projetos que são desenvolvidos. Tomo um cafezinho, enquanto a quadra é preparada para receber os participantes. Quando entro no ginásio, vejo já sentadas aquelas várias senhoras de cabelos brancos, falantes, que se abraçavam pelo reencontro ou que colocavam o assunto em dia, pois chegaram cedo e foram direto para as aulas e ainda não tinham tido tempo suficiente para atualizarem o papo.

Minutos antes, algumas delas estavam naquela mesma quadra, com um professor orientando os exercícios físicos. Elas, com as mãos em algumas barras apoiadas no chão, faziam leves movimentos, concentradas nas instruções dadas pelo educador.

Ao iniciar a palestra, os olhos estavam atentos. Uma delas me lembrava de beber água durante a minha fala. A outra, sentada na frente, com roupas de academia esportiva, balançava a cabeça. Uma idosa, que é a modelo dos desfiles de moda da unidade, olhava com uma feição serena, mas sem esconder uma vida de muita luta. Foi ela quem mais me marcou, pois no fim da minha fala, ela chegou, me pediu um abraço e há tempos eu não sentia tanta emoção num ato silencioso. Ela chorava, depois de me contar que perdeu o filho há dois anos e ali era o lugar onde ela se encontrava com amigas, sentia-se acolhida e feliz.

Naquele dia, uma fila se formou para me dar um abraço. Cada uma contava um fragmento da sua história, compartilhava comigo um momento de muito afeto. Histórias que existem, mas que parece que a gente não tem tempo de ouvir. Bibliotecas vivas, diante de todos nós.

Fiquei sabendo que o Sesc realiza excursões com os participantes do projeto, tem aula de canto, artes, exercícios para o físico e para a mente. Cada unidade oferta aquilo que é bem característico do seu território.

O baile dançante da unidade Santa Quitéria, em Belo Horizonte, é o queridinho da maioria. As inscrições para participação se encerram rapidamente e no dia do evento, que tem agenda regular, os amantes da dança chegam vestidos a caráter, com cabelos e maquiagem bem pensados para aquele momento que é de encontros, alegrias e leveza da alma.

Sei que as atividades para os 60+ têm mais demanda que ofertas e a minha intenção com esta coluna é parabenizar o Sesc, através dos seus profissionais, pedindo que invista cada vez mais em ações que acolham todas as gerações, trazendo perspectivas e sentido de vida a cada pessoa que depende desses serviços para que se cumpra aquilo que Goethe disse: “o que passou, passou, mas o que passou luzindo, resplandecerá para sempre”.

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