Tio FlávioPalestrante, professor e criador do movimento voluntário Tio Flávio Cultural.

Tristeza ou depressão?

14/01/2021 às 19:24.
Atualizado em 05/12/2021 às 03:55

Antes mesmo da pandemia, já tínhamos a noção de que alguns desconcertos nos perturbavam, mas, como de costume, deixamos passar o tempo, pois o incômodo ainda se faz suportável. 

O excesso de informações que recebemos, lemos e que temos que checar em outras fontes, já que vivemos uma avalanche diária de notícias fabricadas com o objetivo de desinformar e sustentar falsas verdades; as redes sociais, onde as pessoas não conseguem esperam por respostas e não respeitam o ritmo dos outros: é interessante observar que muita gente, para evitar o desconforto de ser “molestada” virtualmente, quando precisa de um tempo de sossego, coloca plaquinhas e mensagens de “férias” em seu perfil, esperando o bom senso de quem vê.

A angústia de não ter cumprido os compromissos diários, de carregar suas pendências por dias, de estar sempre em dívida com alguém, gera uma ansiedade, uma autocobrança e um desconforto imensos. Há situações em que as pessoas de fora nem estão na cobrança de um retorno, mas damos vida e alimento a uns “monstrinhos” imaginários que não nos permitem descansar, que ficam roendo nossa paz e nossa saúde mental e emocional, nos fazendo sentir que estamos eternamente em débito com alguém, mesmo que não saibamos quem.

Esses são alguns dos problemas que são perturbadores para muita gente, mas a lista pode ficar maior: desemprego, falta de perspectiva, doença, perda de pessoas, crise nos negócios, atritos familiares, adaptação a uma realidade virtual, os dias curtos para jornadas longas de trabalho e por aí vai.

Tudo isso vai minando a nossa saúde emocional, mental e física, o que pode acarretar uma síndrome chamada de Burnout que, segundo a Rede D’Or São Luiz, é um distúrbio psíquico causado pela exaustão extrema, relacionada ao trabalho de um indivíduo. Essa condição também é chamada de “síndrome do esgotamento profissional”. A jornalista Izabella Camargo escreveu, recentemente, o livro “Dá um tempo!”, que conta sua história com esse distúrbio.

Mas há, também, uma velha conhecida de todos nós que anda ainda mais à espreita: a depressão. 
A OPAS – Organização Pan-Americana da Saúde, órgão internacional criado em 1902 e vinculado à ONU – Organização das Nações Unidas, cita algumas informações importantes sobre a depressão, que a diferenciam de uma tristeza eventual. 

A depressão é um transtorno mental caracterizado por tristeza persistente e pela perda de interesse em atividades que normalmente são prazerosas, acompanhadas da incapacidade de realizar atividades diárias, durante pelo menos duas semanas. 

É causada por uma combinação de fatores genéticos, biológicos, ambientais e psicológicos. Algumas pesquisas genéticas indicam que o risco de depressão resulta da influência de vários genes que atuam em conjunto com fatores ambientais ou outros. Como trata-se de algo sério, ninguém melhor que um especialista para orientar cada pessoa no seu tratamento.

Pesquisadores com muita credibilidade em suas áreas, que atuam em diversas universidades do mundo, corroboram as informações da OPAS, já que apontam dados que podem, inclusive, nos ajudar a entender um pouco mais o assunto. 

Um grupo de cientistas, liderados pela Ph.D. Sonja Lyubomirsky – que é autora do livro “Os mitos da felicidade”, identificou que 50% da nossa felicidade é genética, 10% apresentam alguma ligação com fatores circunstanciais da vida e os outros 40% são atribuídos às escolhas que fazemos diariamente. 

Para quem se interessa pelo assunto, vale muito a pena pesquisar sobre temas como o “viés da negatividade”, na psicologia, e sobre a “imperturbabilidade”, na filosofia estoica, que através de um dos seus mestres, Epicteto, ensina que há coisas que podemos controlar e há outras que não estão sob o nosso controle, assim, vale dedicar tempo às que são administráveis por nós e buscar o entendimento e a aceitação das demais, que virão de qualquer forma, independente que a gente queira: como uma doença, o desemprego e a morte. Reconhecer esses fatores incontroláveis nos faz ter mais forças para “superá-los” ou, ao menos, conviver com eles.

Os estoicos aconselham, ainda, que devemos achar um meio termo entre os excessos, para não ficarmos variando sequencialmente de extremos, entre euforia e melancolia.

Vale também conhecer o que é chamado na ciência de “Proporção ou Linha de Losada”, fruto de anos de pesquisa dos cientistas Barbara Fredrickson e Marcial Losada, que apresento de maneira bem superficial: para cada emoção negativa que vivenciamos, precisamos de outras três positivas para que o nosso percentual de felicidade sobressaia. Isso não significa emoções extremas, como aumento de salário ou cura de uma doença, mas podem ser, inclusive, situações corriqueiras.

Por fim, não é por acaso que uma música da década de 70, composta por Belchior, tornou-se um hino de 2019 para cá. Em entrevista ao Nexo Jornal, Jotabê Medeiros, autor da biografia “Apenas um rapaz latino-americano”, afirma que a música “Sujeito de sorte” consegue, de alguma forma, renovar a fé de certos grupos em agir como um coletivo político ativo.

  

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