“Estou bem, mas me dói ter que ver meus netos apenas pela janela”, me conta uma amiga, pelo whatsapp, que está em casa cumprindo sua quarentena, com diversas atividades domésticas e, para a sua alegria, cheia de roupas que foram doadas antes do alerta da pandemia e que ela lava, faz ajustes e passa para doar a vários projetos sociais que ajuda.
Mais uma vez a janela, esse espaço aberto, ou rasgo como define o dicionário, que serve para deixar entrar a luminosidade e fazer o ar circular, é o nosso tema por aqui, já que ela é, também, um importante local de exposição e de observação.
Em época de Covid-19 ela passa a ter um papel motivador, servindo para elevar o astral e a estima das pessoas, através de músicas que são executadas ou vivenciadas através delas em cidades europeias, rompendo a dor de pessoas que se isolaram em suas residências por tempo indeterminado. No Brasil já há diversos registros de solidariedade e manifestações motivacionais, como amigos que de uma janela cantam “parabéns para você” para um aniversariante em quarentena do outro lado da rua ou o bombeiro militar que executou o “eu sei que vou te amar”, de Jobim e Vinícius, em um trompete do alto de uma imensa escada “Magirus”, no Rio de Janeiro.
Gritos e “panelaços” contra ou a favor de um governo, palmas para profissionais da saúde, a janela serve para comemorar gol do seu time ou para vibrar com a expulsão de algum participante de reality show.
Com um papel importante de relacionamento, historicamente, como nos lembra o professor Bruno Rangel, havia conversadeiras, espécies de bancos que ficavam nas janelas a fim de que quem estivesse dentro pudesse confortavelmente conversar com quem estivesse fora, no século XVIII, em Minas, por exemplo.
Com explica Aziz Filho, no Diário do Porto, em 9 de janeiro de 1822, o príncipe regente Pedro, herdeiro do trono do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, foi a uma das janelas do então Paço Real, no Rio de Janeiro, para dizer que não retornaria a Portugal. O Brasil começava a ficar independente.
No Feng Shui, a arte chinesa de harmonização de espaços, as janelas significam o futuro. Estão relacionadas aos olhos e a forma de ver a vida e, por isso, como afirmam os estudiosos, é importante que estejam sempre limpas, o que significa a abertura e aceitação de novos rumos para a vida.
Sua denominação remonta do latim, em que porta é “janua” e o “januella” seria o seu diminutivo, o que resultou, para nós, em janela. O termo “defenestrar”, que significa lançar algo ou alguém pela janela, vem do latim “fenestra”, que foi adaptado para o italiano “finestra” e para o francês “fenêtre”.
Em negócios temos o caso clássico da Microsoft e o seu Windows, que em meados da década de 1980 tornou-se um sucesso global com suas janelas coloridas. Em inglês, o termo “windows” significa justamente o quê? Pois é.
Para encerrar, não poderia deixar de citar que há o termo médico, a que estamos mais expostos ultimamente, que é a janela imunológica, o período entre a infecção e a produção de anticorpos pelo organismo.
Eu nunca tinha parado para observar que de um componente arquitetônico, a janela assume uma simbologia e uma importância grandes em nossas vidas, tornando-se uma companheira onde damos vazão aos pensamentos, nos relacionamos em época de distanciamento físico necessário, alimentamos o corpo de energia e vitamina e a transformamos em espaço de esperança.