Órgãos oficiais se manifestam sobre eutanásia de animais na área destruída em Brumadinho

Cinthya Oliveira
29/01/2019 às 16:01.
Atualizado em 05/09/2021 às 16:17
 (Flavio Tavares)

(Flavio Tavares)

Vinte e seis animais foram resgatados da área atingida pela lama da barragem da Mina do Feijão, em Brumadinho, anunciou nesta terça-feira (29) o Corpo de Bombeiros. O trabalho de resgate é feito por veterinários voluntários e contratados pela Vale, contando com apoio de forças de segurança. Os animais foram levados para uma fazenda, onde são alimentados e tratados. 

No trabalho das equipes das forças de segurança, há animais que podem ser salvos e outros que são eutanasiados, devido à impossibilidade de resgate. Após muita polêmica nas redes sociais, vários órgãos se manifestaram sobre o assunto nesta terça-feira. 

O Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV) explicou que dois animais (um equino e um bovino), que estavam atolados há quatro dias em local de difícil acesso, tiveram de ser abatidos por meio de rifle sanitário. De acordo com o órgão, os animais encontravam-se em local sem condições de segurança para serem içados, presos em área que oferecia riscos aos socorristas e sem possibilidade de acesso para intervenção de outra técnica de eutanásia. (Confira nota técnica do Conselho Regional de Medicina Veterinária abaixo). 

A Polícia Rodoviária Federal é um dos órgãos que atuam nas ações de resgate de animais. De acordo com nota enviada pela corporação, um helicóptero fez sobrevoos na região, nesta segunda (28), à procura de animais. Vários dos que foram encontrados com vida foram alimentados e hidratados “para que houvesse a manutenção básica da vida até que fosse possível a mobilização de recursos de resgate”, de acordo com a corporação.

A PRF afirma ainda que três bovinos atolados na lama, em estado de exaustão e com fraturas de membros, foram mortos. “Após análise da equipe veterinária, considerando a impossibilidade de adoção de outras medidas, foi tomada a decisão pela eutanásia daqueles animais. O procedimento foi orientado e supervisionado pela equipe veterinária sob a coordenação do comando da operação de resgate”, disse a corporação.

A corporação publicou um vídeo que mostra um dos animais encontrados. 

De acordo com o porta-voz do Corpo de Bombeiros, Pedro Aihara, em entrevista coletiva concedida na manhã desta terça, a eutanásia só é realizada quando o resgate não é viável e o sofrimento do animal é muito grande. Mas a decisão é tomada pelos veterinários presentes nas ações.

A Polícia Militar também se manifestou, apresentando uma nota sobre o assunto na tarde desta terça-feira. Veja:Reprodução / N/A

O Conselho Regional de Medicina Veterinária participa da coordenação das ações de resgate. Em vídeo postado nesta terça, a presidente da Comissão de Bem-Estar Animal do conselho, Ana Liz, explica que um dos bovinos encontrados na região da lama será sedado e avaliado, para depois ser transportado pelo helicóptero do Corpo de Bombeiros até a fazenda usada para abrigar os animais resgatados.

Ela explica ainda que os animais reaparecem perto do local de costume alguns dias após a tragédia, em busca da água do rio. No caso dos animais domésticos, alguns aparecem à procura das casas onde viviam.


Confira a nota técnica da Comissão Nacional de Bem-Estar Animal (Cobea) do CFMV:
 
"Por convicção, inspiração cívica e comprometimento com o bem-estar dos animais envolvidos na catástrofe de Brumadinho (MG), os médicos-veterinários brasileiros em atividade no local, voluntários ou não, estão buscando minimizar os danos à saúde física e mental dos animais presentes na área do acidente.

Cabe frisar que todo médico-veterinário possui formação técnica para realizar o diagnóstico das condições de saúde dos animais e, em casos extremos, de acordo com as resoluções técnicas do Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV), proceder com o sacrifício humanitário ou com a eutanásia.

Ressalta-se que o método de escolha para o sacrifício passa também pelas condições em que o animal se encontra. Zonas de guerra, de acidentes de grandes magnitudes ou de catástrofes naturais muitas vezes são áreas cujas variáveis do ambiente não estão sob o controle do médico-veterinário. Assim sendo, e não havendo condições de segurança ou de acesso até o animal para remoção ou contenção química por anestésicos, o sacrifício com o uso de rifle é aceito. Quando corretamente aplicado, por profissional apto e habilitado, o projétil produz dano cerebral grave e irreversível, induzindo o animal à imediata inconsciência e insensibilidade, eventos que antecedem e garantem morte rápida e indolor. Por ser uma técnica humanitária e por permitir mitigar de maneira rápida o sofrimento dos animais em zonas de catástrofes, este método é amplamente difundido e recomendado pela Organização Mundial de Saúde Animal (OIE), bem como pelo CFMV. A decisão de sacrificar um animal não é algo fácil para nenhum profissional. Certamente é o momento mais difícil na vida de qualquer médico-veterinário. Possivelmente, os traumas produzidos em circunstâncias de sacrifício em massa e em áreas de catástrofes sejam similares aos traumas de guerra.  Sendo assim, neste momento, em que centenas de animais precisam de socorro e em que dezenas de veterinários estão assumindo para si esta responsabilidade, o que se espera da sociedade brasileira é o mais sincero apoio a cada um dos profissionais presentes hoje em Brumadinho (MG)".
 

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