Os poetas abrindo muros

28/05/2016 às 19:04.
Atualizado em 16/11/2021 às 03:38

Volta do Ministério da Cultura, projeto que institui a Política Nacional de Leitura e Escrita caminhando para o Congresso, uma (ainda que leve) melhora no número de livros lidos pelo brasileiro, segundo a pesquisa Retratos do Brasil. Há esperança!

Escritores há muitos e alguns pouco conhecidos, merecedores de indicação. Na semana que passou recebi “Vozes do Silêncio”, de Bernardo Caldeira, Benvinda Editora. O poeta chama um monte de mestres, como Lacan, Nietzsche, Adélia Prado, Clarice Lispector (de novo ela), outros mais teóricos, para fazer muros ao seu redor. Só que são muros que abrem caminhos, e eles vão longe. 

“Numa pequena fresta na parede/Vejo um sinistro olho convulsivo/Vidrado epiléptico e sem vida/No seu chifre pendura-se uma xícara/Que nada quer de mim/Eu sou todo horror noturno/O medo de escuro da criança”.

O que será que Bernardo Caldeira vai fazer com essas vozes? É preciso ler e observar até os oferecimentos que vai distribuindo ao longo dos poemas, estes espalhados pelas páginas pares e ímpares com despudor. 

Acompanho esse mundo mais de perto quando olho para as crianças e aquelas mais crescidas. Bernardo é novo, mas me refiro aos mais novinhos, aqueles que lotaram o Expominas nos momentos em que os donos de blogs e vlogs exibiam livros impressos. As filas dessa meninada mostram duas coisas: não estão nem aí para as obras indicadas nas escolas e, sim, eles leem livros impressos. 

Então, esse mundo de poesia e prosa, esse planeta da leitura vai ganhando mais adeptos a cada dia. Os festivais pipocam, livrarias resistem, as redes sociais disseminam, escritores e leitores vão se encontrando por aí. Os livros, estes, continuam, mas mais longe ainda seguem as ideias neles contidas. Porque o lenhador que acorda cedo e pesca nos fins de semana pode muito bem se deliciar com os contos de Guimarães Rosa e a prosa arretada de Suassuna. Ler ainda é um prazer sem culpa e o caminho mais curto até o próprio coração. 

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