Padrasto teria tentado suicídio antes de menino sumir

Ricardo Brandt, enviado especial
11/11/2013 às 21:15.
Atualizado em 20/11/2021 às 14:05

Um dia antes do desaparecimento do menino Joaquim Ponte Marques, o padrasto Guilherme Rayme Longo, de 28 anos, tentou o suicídio tomando uma cartela de um calmante e anticonvulsivo (rohypnol), de venda controlada. As caixas do medicamento ainda estão na estante da cozinha da casa, onde o casal vivia com a criança e um filho de quatro meses.

Longo foi internado por volta das 5h do dia 4 pelo pai Dimas Longo, de 60 anos, no Hospital São Francisco. Ele teve alta por volta das 15h30. "Trouxe ele para casa, ele dormiu até as 19h30, comemos uma pizza juntos e fui leva-los na casa deles, às 20h30", lembra o pai. "Fiquei na casa deles até umas 22h, brincando com o Joaquim na sala."

Dimas Longo lembra que naquela madrugada acordou às 2h da madrugada assustado. "Fiquei preocupado por causa do que tinha acontecido na noite anterior e peguei o carro e fui até lá. Passei na frente da casa e vi que estava tudo calmo, as luzes apagadas", lembra o pai, que mora há uma quadra do filho. "De manhã, o Guilherme ligou dizendo que o Joaquim tinha sumido."

A casa onde eles viviam pertence a Dimas Longo. O filho, o mais velho dos três, foi adotado pelo casal em 1985 em um processo informal. "Acompanhamos desde a gravidez, a mãe dele era uma menina, não tinha condições." Guilherme Rayme Longo, desde criança, foi diagnosticado como hiperativo. "Na época, não entendiam muito de hiperatividade. Ele nunca foi agressivo, violento, mas ele não para. Nunca parou, desde bebê", lembra a mãe Augusta Rayme Longo, de 70 anos, exibindo as medalhas de jiu jitsu.

Na adolescência, ele passou a praticar esportes. "Foi a fase que ele ficou mais tranquilo", lembra o pai. "Ele não chegava a brigar, o problema dele era inquietação, ele não parava sentado na carteira." Por causa da hiperatividade, Guilherme Rayme Longo nunca parou em uma escola e teve que ter aulas em casa. Foi só depois dos 20 anos, quando começou a fazer a primeira faculdade - das quatro que ele tentou - que a família soube do contato com as drogas. "Foi na época que ele tentou tirar carteira de piloto de avião."

Aos 22 anos, depois de montar uma firma de informática, Guilherme Rayme Longo conseguiu um visto de um ano para ir estudar na Irlanda, onde trabalhou e viveu por quase dois anos. "Percebemos que ele não estava bem e o trouxemos de volta." Foi quando começaram as internações.

Foram pelo menos duas em Limeira e uma em Ipuã, na clínica onde conheceu a mãe de Joaquim, Natália Mingone Ponte, que era psicóloga do local. "Nós gastamos todas as economias que tínhamos com os tratamentos dele", lembra Augusta. Na semana que antecedeu o desaparecimento de Joaquim, a mãe relata que o filho estava angustiado com a doença de Joaquim, chamada por ele, em família, de filho. "Posso dizer que a criança aparentava gostar muito do padrasto", conta o policial militar Rodrigo Borges, de 37 anos, que mora em frente à casa do casal e tem um filho da mesma idade. "O Joaquim brincava aqui conosco sempre, jogava bola."

A casa está fechada. Na tarde desta segunda, os pais de Guilherme foram retirar a comida da geladeira e buscar documentos no local. A mochila de Joaquim ainda está em cima da cama e os brinquedos espalhados pela casa. "Se ele teve surto, não acredito. Pelo retrospecto dele com o menino, não imagino ele fazer qualquer coisa com ele, eles brincavam muito, eram muito amigos", afirma o pai. "O emocional dele foi a zero quando descobriram a doença do Joaquim. Ele amava muito esse menino. Ele é meu neto e vai continuar sendo", conta Augusta.
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