Após distribuir folhetos em que pede igualdade de direitos e o fim da criminalização sexual, o pároco Paulo Sérgio Bezerra disse que o papa Francisco "soltou a língua" dos padres e os autorizou a falar sobre temas considerados polêmicos, como orientação sexual. Os folhetos, feitos especialmente para a paróquia, foram distribuídos na missa de domingo na Igreja Nossa Senhora do Carmo, em Itaquera, zona leste da capital.
Na Oração dos Fiéis, há prece para que "a ofensiva homofóbica, fundamentalista e histérica presente no Congresso Nacional seja enfrentada com ousadia e serenidade pelo ascenso das causas libertárias". Pede ainda que "o diálogo sobre sexualidade leve igrejas cristãs a superar a demonização das relações afetivas" e que "cesse no Brasil a criminalidade sexual".
Segundo o padre, as preces surgiram de discussão da própria comunidade, após encontros com o tema Provocações da Vida e as Repostas da Fé. "Não sou sozinho, foi a comunidade que assumiu essa posição. Tudo é construído em equipe, acho importante não personalizar essas questões apenas na imagem do padre."
Coragem
Padre há 35 anos e responsável pela paróquia em Itaquera desde 1982, Bezerra disse que não teme ser punido ou censurado pela Igreja Católica. "São poucos os padres com coragem de tocar nesses assuntos. Sempre fui assim, mas, com esse papa, sinto mais tranquilidade de que não serei punido."
Ele é conhecido na região por batizar filhos de mães solteiras e de pais em união estável. No ano passado, Bezerra declarou seus candidatos durante a eleição, desobedecendo a determinação da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).
Roberto Francisco Daniel, padre de Bauru excomungado em novembro após defender a união homoafetiva e mudanças na estrutura da Igreja, disse que Bezerra é corajoso por defender esses temas de forma aberta. Para ele, apesar de o papa também ser favorável à tolerância e ao acolhimento dos homossexuais, esse posicionamento não é o do Vaticano. "É uma posição pessoal do papa, que sofre muita resistência das alas conservadoras da Igreja."
Para Marianna Chaves, especialista em Direito homoafetivo, a ação de Bezerra contra homofobia é importante para acabar com o estigma das religiões sobre posições intolerantes. "Alguns pastores se apropriaram da Bíblia para reforçar preconceitos, mas não devem representar todos os religiosos."
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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