Papa autoriza em caráter definitivo que padres perdoem o aborto

AFP
23/11/2016 às 10:03.
Atualizado em 15/11/2021 às 21:46
 (Alberto Pizzoli)

(Alberto Pizzoli)

O papa Francisco estendeu nesta segunda-feira uma concessão dada durante o período do Jubileu da Misericórdia anunciando que todos os padres poderão absolver de forma indefinida o "pecado do aborto", tornando permanente uma medida temporária.

Francisco também estabeleceu uma data para uma "Jornada Mundial dos Pobres".

"O Jubileu termina e a Porta Santa se fecha. Mas a porta da misericórdia do nosso coração ainda continua aberta", declarou o pontífice argentino nesta carta endereçada a quem quiser lê-la e intitulada "Misericordia et misera" (Misericórdia e piedade).

Repetindo que o perdão de Deus não tem limites, ele pediu a todos os sacerdotes que sejam generosos em receber a confissão dos fiéis.

"Para que nenhum obstáculo se interponha entre o pedido de reconciliação e o perdão de Deus, de agora em diante concedo a todos os sacerdotes, em razão de seu ministério, a faculdade de absolver a quem tenha procurado o pecado do aborto", escreveu o papa em uma carta apostólica.

Ele prolonga assim uma disposição que havia sido planejada somente para o Jubileu, enquanto até agora apenas os bispos e alguns sacerdotes especificamente determinados podiam absolver uma mulher que abortou ou uma pessoa que a ajudou.

"Enquanto o concedi em caráter limitado, para o período jubilar, agora o estendo no tempo", acrescentou.

"Quero enfatizar com todas as minhas forças que o aborto é um pecado grave, porque põe fim a uma vida humana inocente. Com a mesma força, no entanto, posso e devo afirmar que não existe nenhum pecado que a misericórdia de Deus não possa alcançar e destruir, ali onde se encontra um coração arrependido", disse ainda.

Ao mesmo tempo, o papa prorroga a missão dos "missionários da misericórdia", mil confessores presentes no mundo inteiro e encarregados, durante o Jubileu, de recuperar as ovelhas que a Igreja perdeu com mensagens de condenação muito fortes.

O episcopado do Brasil, o maior país católico do mundo, saudou a "forte" e "significativa" decisão do papa, igualmente comemorada pela ONG Católicas pelo direito de Decidir (CDD).

"O papa Francisco, com esta iniciativa, lembra a gravidade do aborto e o poder extraordinário da misericórdia divina capaz de curar todas as feridas humanos", declarou o secretário-geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Leonardo Ulrich Steiner, em um comentário enviado à AFP.

"Esta é uma excelente notícia porque nós consideramos que essa medida com uma data de expiração não fazia sentido. Era uma coisa assustadora, porque abria uma exceção para, em seguida, culpabilizar novamente as mulheres, quando o que elas precisam é de compreensão e apoio, e não condenação", disse à AFP a coordenadora da CDD no Brasil, Rosangela Talib.

Mão estendia aos integristas

Sempre preocupado por não excluir ninguém do perdão divino, o papa estendeu também a validade das absolvições concedidas pelos sacerdotes integristas da Irmandade Sacerdotal São Pio X, comunidade fundada por Marcel Lefebvre que rompeu com a Igreja em 1988.

A comunidade saudou a notícia como um "gesto paternal", embora denuncie regularmente a benevolência excessiva da Igreja em relação ao mundo contemporâneo.

Após marcar este ano santo por uma série de gestos em favor dos excluídos, o papa também pediu em sua carta que o mundo tenha "imaginação" para encontrar novas formas de lidar com os mais pobres.

"O mundo continua a produzir novas formas de pobreza material e espiritual que atacam a dignidade das pessoas. É por esta razão que a Igreja deve estar sempre alerta e pronta para identificar novas obras de misericórdia e aplicá-las com generosidade e entusiasmo", insistiu.

Como sinal desta preocupação, Francisco estabeleceu uma "Jornada Mundial dos Pobres", que acontecerá todos os anos em um domingo em meados de novembro, na tradição do Jubileu dos sem-teto que ajudou a trazer milhares de excluídos no dia 13 novembro
 ao Vaticano.

"Será um dia que ajudará as comunidades e cada pessoa batizada a refletir sobre a maneira como a pobreza está no centro do Evangelho e sobre o fato de que, enquanto houver (um pobre) à porta, não poderá haver justiça nem paz social", explicou.

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