(instagram/reprodução)
Conto de fada ou realidade? Ouvir a história de uma criança de apenas 11 anos, pouco mais de 1 metro e 30 centímetros de altura e próxima de ser uma das representantes do Brasil nos Jogos Olímpicos de Tóquio pode soar como algo fantasioso. Mas não é! Aliando uma paixão antiga (pasmem!) à profissão que escolheu sem a mínima pressa ou vontade de se aposentar, a maranhense Rayssa Leal, conhecida como “Fadinha”, balançou o cenário do skate no país e, mesmo com a pouca idade, já é vista como um dos principais nomes entre as mulheres.
Incentivada por um amigo do pai, Haroldo, a baixinha talentosa conquistara, aos 7 anos, o primeiro título nacional, na categoria street. Naquela ocasião, derrotou meninas até três anos mais velhas que ela.
“Quando acabou a competição, não tínhamos dinheiro para voltar”, contou em entrevista ao Extra. “Donos de foodtrucks, que tinham trabalhado no evento, nos ajudaram a comprar passagens (de ônibus). Mas o dinheiro só deu para duas. Eu vim no colo da minha mãe e do meu pai. Nossa, doíam muito as costas. Chegamos moídos”, acrescentou a menina que hoje vive realidade diferente e já lida com os holofotes.Allan Carvalho/cemporcentoskate
Contudo, foi no meio desta temporada que ela chegou ao ápice de seu início de carreira. Competindo em Los Angeles (EUA), a menina mais famosa de Imperatriz-MA conquistou pela primeira vez uma etapa da SLS (sigla em inglês para Mundial de Skate Street), se tornando a atleta mais jovem do planeta a conseguir tal façanha.
Nesta entrevista exclusiva ao Hoje em Dia, Rayssa conta como foi receber os olhares do mundo, driblar o nervosismo e dar show em pistas norte-americanas. Além disso, a “Fadinha” explica o apelido, fala do sonho de figurar entre os atletas que disputarão a próxima Olimpíada e muito mais. Confira!
Como é para você ser a mais jovem skatista a faturar uma etapa da Street League Skateboarding (SLS)?
Para mim foi muito legal estar no maior campeonato do mundo, realizando meu grande sonho e ganhando... Meu Deus! Sempre batia aquela pressão na última manobra, porque você não sabe se vai passar.
Você conseguiu superar suas amigas já consagradas Pâmela Rosa e Letícia Bufoni nesta etapa. Como elas te ajudam a evoluir cada dia mais no esporte?
Elas me motivam muito. Estar correndo com minhas ídolas é muito especial. Elas sempre estiveram ao meu lado para tudo. Quando ganhei a etapa, elas disseram: “Parabéns, vamos para a próxima, que será dobradinha”. E aconteceu com a Pâmela (risos)!
Chegar aos Jogos Olímpicos do Japão é seu maior sonho? Acha possível estar lá no ano que vem?
Claro! Acho que é possível, sim. Se eu continuar me dedicando, treinando e indo para São Paulo, já que aqui em Imperatriz não tem uma pista muito boa... Há muita chance de eu ir para os Jogos, e espero que dê certo. instagram/reprodução
Como você enxerga o skate na Olimpíada? É uma grande conquista para o esporte?
Bom, deixa eu pensar... É muito importante, até para incentivar muitas meninas e muitos meninos, também. Antes todo mundo falava que skate não era para menina e era só para quem fumava, para quem bebia, e a gente está tirando isso da boca das pessoas, apesar de ainda existir muito preconceito. Ter esse esporte na Olimpíada já ajudou muito para mudar esse olhar.
Você tem 11 anos e já vive uma vida de gente grande. O que a “Fadinha” gosta de fazer quando não está sobre a ‘prancha’?
Jogar videogame! Adoro jogar Fortnite (jogo eletrônico no qual várias pessoas interagem online)! Ainda não tenho joguinhos de skate. Vou comprar na minha próxima viagem para fora.
Ah! E de onde surgiu o apelido? Lembra quando começou? E o que você achou?
Cheguei em casa, vinda de um desfile na escola e, sem tirar a fantasia, pedi para meu pai colocar minha meia, meu tênis e me dar o skate. Fui fazer uma manobra, e minha mãe, ‘sem querer querendo’, filmou. Aí você já sabe o que aconteceu, né (risos)?
Conta um pouco de como você iniciou no esporte. Quem te incentivou? O que o skate significa na sua vida?
Foi um amigo do meu pai quem me apresentou ao skate. Comecei a andar, a evoluir e a postar vídeos e, assim, passei a correr em mais campeonatos. Eu tinha seis anos. Sempre levava quedas, mas nunca pensei em desistir, sempre tem que se levantar.Pedro Ramos/ rededoesporte.gov.br
Representar o Maranhão também tem um peso especial na sua vida? Como percebe o carinho do povo quando você está no Brasil?
É legal representar o Maranhão, principalmente por haver tão poucas meninas representando o Nordeste. No meu Estado só tem eu, por exemplo. Tento dar meu melhor nos campeonatos para trazer mais nomes aqui para minha cidade.
Estamos no mês das crianças. Qual o presente que você mais gostaria de ganhar?
Gostaria de ganhar... Deixa eu ver... Eu gostaria de ganhar um kit de fazer slime (geleca). Aqueles bem grandes! Eu gosto muito.
Como você consegue conciliar o esporte com os estudos?
Estou sempre estudando pelos livros, porque às vezes temos conteúdos novos. Tenho me dedicado bastante também quando estou em São Paulo.Pedro Ramos/ rededoesporte.gov.br
Como é a reação das pessoas quando te encontram na rua?
Ah! É bem legal. Mas em São Paulo é muito mais agitado do que aqui em Imperatriz. O povo me reconhece muito mais lá do que aqui. Muita gente aqui me conhece e só quer minha amizade mesmo, deve ser por isso que é mais tranquilo.
Lembra da primeira vez que distribuiu autógrafos? Como foi?
Foi bem legal. Uma menina me perguntou se eu já tinha dado autógrafos, aí eu falei que não. Ela falou: “Esse vai ser seu primeiro”. Eu nem sabia como fazer, mas ficou legal. Nem tinha treinado ainda, mas saiu bonitinho no papel (risos).