( CEBDS/Divulgação )
Apesar de ter sido ministra do Meio Ambiente no governo Lula, a candidata à Presidência Marina Silva (PSB) não tem dado muita ênfase às questões relacionadas à sustentabilidade na campanha deste ano. Isso não ocorreu porque ela apagou de suas propostas as ações ambientais, mas principalmente porque ela precisa apresentar outras agendas aos brasileiros, para tentar se eleger. Já Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB) também não demonstraram em suas propostas que a sustentabilidade é um item prioritário. Defender o meio ambiente, apenas, ainda não rende votos suficientes para se vencer uma eleição majoritária. Para o professor do programa de Planejamento Energético da Coppe/UFRJ, Alexandre Szklo, os presidenciáveis ainda não colocaram em suas agendas a sustentabilidade como ponto de partida para os outros temas. “Os debates dos candidatos estão muito centrados em questões econômicas e sociais, enquanto a sustentabilidade não aparece em um primeiro plano, mas como um plano secundário”, aponta. Mas o Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (Cebds), que reúne 70 grandes grupos empresariais do país, quer mudar essa postura dos políticos brasileiros. Nestas eleições, o conselho lançou a “Agenda Cebds por um país sustentável”, em que apresenta ideias aos três principais candidatos. “Esse é o momento certo. Nós fomos bem recebidos (pelos três presidenciáveis). O que a gente está pedindo é que seja estabelecido um fórum de alto nível, com os presidentes das empresas e o próximo presidente, ou próxima presidente, onde se tratasse da sustentabilidade. Nossa agenda seria o primeiro instrumento para iniciar esse diálogo. São 22 propostas, um primeira cartada na mesa. Foram dez meses de encontros com os CEOs das empresas para elaborar essas propostas”, afirma a presidente do Cebds, Marina Grossi. Conselho propõe a criação do Selo Brasil A iniciativa de se apresentar uma agenda de sustentabilidade produzida pelos principais grupos empresariais do país é inédita, aponta a presidente do Cebds, Marina Grossi. “É a primeira vez que fazemos isso. Não existe esse modelo no mundo todo. Grandes líderes empresariais propondo sobre sustentabilidade para um próximo presidente. É um sinal de que a sustentabilidade tem que entrar na pauta, tanto que foi possível reunir líderes empresarias”, argumenta. Grossi enfatiza que é preciso que os governantes entendam a necessidade de se adotar ações de médio e longo prazos, em vez de ações que durem apenas um governo. “O governo tem que colocar uma discussão de políticas de Estado. Se não fizer isso, não consegue estabelecer um rumo. Essas idas e vindas têm um preço muito alto para o país”, avalia. Como itens prioritários da agenda de sustentabilidade do Cebds, Marina aponta questões relacionadas a saneamento, educação, mobilidade e a criação do Selo Brasil, que seria um instrumento para dar competitividade e visibilidade aos produtos brasileiros no que diz respeito a uma matriz mais limpa de produção. Na semana passa, o Cebds organizou um diálogo com jornalistas, em São Paulo, para tratar de sustentabilidade e eleições, além dos desafios para quem assumir o governo federal nos próximos 4 anos. Para o professor do Programa de Planejamento Energético da Coppe/UFRJ, Alexandre Szklo, uma das principais questões é a exploração adequada do petróleo do pré-sal, já que, até 2050, a tendência é que a matriz energética do país ainda seja prioritariamente de combustíveis fósseis. Ao mesmo tempo, é crucial que o próximo presidente invista fortemente em energias renováveis para ter ganhos de escala. “Temos a necessidade de uma transição energética, e essa energia tem que ser barata e confiável”, argumenta. Já o mestre em sustentabilidade pela USP Samuel Barreto enfatizou a urgência de se investir em saneamento básico. “Se continuarmos no ritmo que estamos, só no século XXII teremos esgoto para toda a população”, argumentou. (B.M.) (*) O repórter viajou a São Paulo a convite do Cebds