Partido dos Trabalhadores tenta se reinventar e superar os desgastes

Giulia Mendes - Hoje em Dia
10/05/2015 às 10:26.
Atualizado em 16/11/2021 às 23:58

Os escândalos de corrupção envolvendo o Partido dos Trabalhadores (PT) colocaram a legenda, nos últimos anos, em uma crise existencial. O Petrolão e a operação “Lava Jato” contribuíram para aumentar a insatisfação, seja nas ruas, em manifestações, ou em conversas de bar e nas redes sociais. É perceptível, no discurso de parte da população, o desejo de que aconteça a punição dos filiados ao partido envolvidos em corrupção.
Até os próprios dirigentes do PT reconhecem que o diretório precisa de uma reformulação, prometida até junho deste ano, quando será realizada a segunda etapa do 5º Congresso Nacional do PT, parte da comemoração dos seus 35 anos de fundação. No entanto, a sigla reclama da parcialidade das críticas, já que políticos de outros partidos, como PP e PMDB, também são investigados pela “Lava Jato”.
O presidente nacional do PT, deputado Ruy Falcão (PT-SP), acredita que o partido passa por um “processo de criminalização” e diz que não se pode punir um partido inteiro pelo erro de alguns.
Para o professor de ciência política do Ibmec, Oswaldo Dehon, parte das políticas do governo Federal, instauradas pelo ex-presidente Lula e pela presidente Dilma Rousseff, desagradou setores hegemônicos da sociedade.
Dificuldade
E a dificuldade econômica enfrentada pelo país também contribuiu para aumentar o foco das reclamações contra o PT. “O partido cometeu muitos erros, mas a ideia de que a mudança de partido no comando do Brasil cessaria os problemas é ingenuidade”, disse.
Dehon lembra que o PT não era o partido mais visado para críticas. Historicamente, o PMDB era a sigla que figurava no centro de escândalos de corrupção. Divergências internas no partido acabaram culminando na criação do PSDB, outro partido que se envolveu em escândalos no final dos anos 1990, quando comandava o Executivo.
“Problemas ligados ao setor de comunicações, com privatização de estatais, processos de recuperação de bancos, o próprio Mensalão Mineiro, vários casos de corrupção apareceram neste período”, lembra o professor.
O PP também teve problemas semelhantes. Na operação “Lava Jato”, a legenda teve 32 nomes incluídos na lista do procurador geral da República, Rodrigo Janot, para instauração de inquérito.
Cientista político acredita que a legenda também é alvo de interesses conservadores
O cientista político da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Carlos Ranulfo, acredita que a crítica ao PT seja “seletiva”. Para ele, o PT errou, mas, além disso, é alvo de interesses “conservadores”, diferentemente do PMDB e do PP, que embora tenham muitos políticos envolvidos na “Lava Jato” não são condenados pela opinião pública.
“Existe, efetivamente, uma campanha contra o partido. Quem faz esse tipo de crítica, essa abordagem sobre o PT, é conservador, por isso os partidos conservadores não são tidos como alvos”, afirmou.
Rejeição
Na avaliação do deputado federal e presidente do diretório estadual do PSDB, Marcus Pestana, a rejeição ao PT está diretamente relacionada ao governo da presidente Dilma Rousseff. Para ele, o partido é o grande responsável pela corrupção “institucionalizada em escala industrial e amazônica”. “Eles continuam fazendo da corrupção um método de governo”, disparou.
“A presidência da República é quem dá as cartas e estabelece o padrão de qualidade do governo”, completou pestana. De acordo com ele, o PT se perdeu completamente, traiu suas raízes e valores originais.
Para o deputado federal Reginaldo Lopes (PT-MG), a avaliação popular do partido deve melhorar com a retomada da economia.
“A crise econômica está sendo dimensionada de forma maior do que ela realmente é, mas é claro que a retomada da economia ajudará muito”, ressaltou. Segundo o deputado petista, falta compreensão da sociedade, já que o PT tem o governo que mais combateu a corrupção.
“Nos outros governos, existia uma falsa impressão de que não tinha corrupção. O PT permite a apuração. Mas isso não elimina o desafio do partido de criar mecanismos para combater a corrupção, como tem feito”, concluiu.

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