(Roberto Stuckert Filho/PR)
Mantidos no escanteio ao longo do mandato da presidente Dilma Rousseff (PT), agora, quando cada voto pode ser decisivo no processo de impeachment, os partidos com menor representação na Câmara dos Deputados têm sido disputados tanto pela oposição quanto pelo governo.
A Câmara abriga parlamentares de 25 legendas, sendo que seis delas (PSL, PTN, PHS, PROS, PT do B e PEN), somam, juntas, 32 votos. Por isso, têm recebido atenção especial, principalmente na promessa de cargos, seja no atual governo, seja numa futura coligação pós-Dilma.
Dentro do universo de 513 deputados, elas representam irrisórios 6,24%, mas como a presidente precisa de 172 deputados federais a seu favor para que a denúncia do processo de impeachment não prossiga para o Senado, e a oposição de 342, todo deputado tem peso importante na disputa.
De acordo com levantamento do movimento “Vem pra Rua”, que é contrário à presidente, atualmente 304 parlamentares seriam favoráveis à queda de Dilma, 142 estão classificados como indecisos, enquanto a petista conta com 120 votos favoráveis a ela na Câmara, sendo sete relativos aos “nanicos”.
Assim, o governo ainda teria margem para buscar outros 25 desses seis partidos. A oposição acreditam que ela poderia convencer apenas nove deste grupo.
Interlocutores do Planalto estariam negociando exaustivamente com os deputados das siglas pequenas para tentar virar o jogo.
A estratégia teria sido a divisão dos parlamentares por estados, para facilitar a aproximação dos deputados.
Aos chamados partidos nanicos, o governo oferece parte dos 600 cargos que o PMDB ocupava no governo federal, e que está em processo de entrega, após o rompimento com o governo Dilma, na terça-feira da semana passada.
E ainda tenta convencê-los a não comparecer à votação. Dilma precisa que 172 deputados votem favoráveis a ela ou se abstenham, o que é considerado pelo Planalto também como um ato de lealdade.
Varejo
Um dos deputados que foi procurado por emissários do governo foi o paranaense Alfredo Kaefer (PSL).
Ele deixou recentemente o PSDB e foi para o PSL, no qual faz dupla com a mineira Dâmina Pereira, e garante que manterá a posição de votar contra Dilma no Congresso, apesar da tentação.
“Todos foram procurados. Não posso dizer em quais condições, porque não me propus a ouvir o canto da sereia. Sozinhos, dois votos não seriam representativos, mas junto com um grupo maior, mesmo que de partidos pequenos, faria diferença. Fui convidado a participar de um bloco de 18 a 20 deputados, cujo bloco foi acenado ministérios. Não poderia me desclassificar ou me prostituir”, relatou. O deputado garantiu não ter a “mínima chance de atravessar a avenida”, e ir para o outro lado.
O PTN, que saltou de quatro para 13 deputados federais graças à “janela partidária”, foi o primeiro contemplado na estratégia de distribuir cargos. Ganhou a Funasa.
:: Reforma ministerial só depois da votação do impeachment
BRASÍLIA – A presidente Dilma Rousseff (PT) descartou uma reforma ministerial até a conclusão do atual procedimento de impeachment que tramita no Congresso.
“O Planalto não está pretendendo qualquer estruturação ministerial antes de qualquer processo de votação na Câmara. Não iremos mexer em nada. Especulações sobre ministérios, sobre mudanças no governo, são absolutamente especulações. Sem base de verdade”, afirmou a presidente à imprensa após uma visita à Base Aérea de Brasília.
Dilma enfrenta um processo de impeachment impulsionado pela oposição no Congresso por suposta maquiagem das contas públicas em 2014, ano de sua reeleição.
Após a saída do PMDB do governo, a presidente tenta recompor as forças, apesar de apenas um, de sete ministros do PMDB, ter pedido demissão.
A presidente também ironizou a possibilidade de novas eleições. “São propostas. Não rechaço, nem aceito, mas convença a Câmara e o Senado primeiro a abrir mão dos seus mandatos e aí vem conversar comigo”, declarou.
Cargos
Mesmo rechaçando a ideia de reforma ministerial, alguns movimentos são notados no segundo escalão. Ontem, Dilma nomeou Antonio Iran Costa Magalhães como novo diretor-geral do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs) . Segundo petistas, o nome seria uma indicação da família Gomes (Cid e Ciro).
Na semana passada, Dilma exonerou deste cargo Walter Gomes de Sousa, que era indicado por Henrique Eduardo Alves, que foi o único ministro do PMDB a pedir demissão.
Denúncia
Sem apresentar provas, o deputado Paulinho Pereira da Silva (SD-SP), o Paulinho da Força, acusou o governo de oferecer dinheiro a deputados para não virem votar o impeachment ou votarem contra o processo.
O deputado é presidente nacional do Solidariedade e da Força Sindical e um dos mais ferrenhos adversários do governo Dilma Rousseff. Sem dar maiores explicações ou dizer quem teria recebido a oferta, Paulinho disse que o governo está oferecendo R$ 400 mil para deputados se ausentarem das votações. Governistas negam a oferta.
Com Agência Estado*