Há coisa de alguns meses, o autor Manoel Carlos perguntou a Paulo José se ele poderia usá-lo em sua próxima novela das 9 na Globo, Em Família, para colocar em cena uma delicada reflexão sobre o Mal de Parkinson. "Sim", respondeu, solícito, o ator e diretor que vem convivendo com a doença nos últimos 20 de seus 76 anos.
Passos curtos, voz de timbre baixinho - mas não tímida -, Paulo encontra a reportagem na sala de estar de sua casa e logo vai explicando que sua eloquência não está nos melhores dias. Conta que acabou de fazer um relaxamento e isso não conspira a favor da voz, mas surpreende quando brinca que deveria dar entrevista cantando, e de fato canta, escancarando uma voz que parecia oculta.
Também avisa, de início, que não gosta de dar entrevistas. Fica tenso, o que não acontece quando recita seus poemas, quando canta ou interpreta um texto decorado. Mesmo assim, concordou em nos receber em seu paraíso, no alto da Gávea, onde vive cercado de livros - muitos livros -, cachorros, gatos e pelo menos dez pessoas que circulam por ali diariamente, entre os filhos, a mulher Kika Lopes e alguns poucos amigos.
Há ainda os terapeutas, que se encarregam de uma rigorosa agenda de atividades. Faz fisioterapia duas vezes ao dia, tem aulas de voz três vezes na semana, toca piano para exercitar os dedos, nada, faz fonoaudiologia às quintas e terapia corporal às terças. "E tomo remédios, muitos, cinco vezes ao dia", conta.
Depois das aulas de canto, grava poemas num estúdio que mantém em casa, o que vai render um audiobook. Fala que tem se dedicado muito a escrever. Como sempre lhe perguntam como lida com a doença, resolveu escrever um depoimento em primeira pessoa, relatando altos e baixos vividos nesses 20 anos. "Isso tudo faz parte da minha luta diária para manter o Parkinson como um coadjuvante - um coadjuvante de peso -, mas nunca um protagonista."
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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