(Marcelo Jabulas)
A ascensão da transmissão automática não para de avançar no mercado brasileiro. Se há dez anos as caixas de marchas sem pedal de embreagem eram delegadas aos modelos de luxo, hoje elas estão disponíveis em opções que compõem a base do mercado.
Assim, a expectativa é a de que 2021 feche com 55% de participação dos automáticos. Tendência que irá aumentar em 2022. Mas não porque o brasileiro ficou mais exigente.
A principal razão é a extinção dos populares. Fatores como dificuldade de crédito, alta do dólar, falta de insumos e novas exigências de segurança e emissões provocaram o extermínio de modelos básicos e veteranos que se posicionavam na base do mercado e que são categoricamente manuais.
Distorções
Executivos enchem a bola para dizer que o consumidor aderiu à transmissão automática. E quando se olha os gráficos, os percentuais não mentem. Mas quando se observa de forma quantitativa, o que fica claro é que o carro de entrada sumiu.
Hoje, os únicos populares da praça são Fiat Mobi e Renault Kwid, assim como o Gol, que já contou com caixas automática e automatizada no passado, mas hoje sobrevive com o velho pedal da embreagem. Esses três modelos correspondem a menos de 10% do mercado em 2021.
Para se ter uma ideia, em 2011, quando o mercado fechou o ano com 3,32 milhões de emplacamentos, segundo a Fenabrave, os modelos de entrada e compactos correspondiam a quase 50% das vendas. Nesses segmentos poucas eram as opções com caixas automáticas ou automatizadas.
Já em 2021, de janeiro a novembro, dos 1,78 milhão de emplacamentos, a participação dos modelos de entrada caiu para 11%. Já os compactos, que já contam com opções automáticas em todos os modelos, representam menos de 20%.
Por outro lado, hoje os SUVs correspondem a um terço dos licenciamentos. Desde o início do ano foram quase 600 mil jipinhos e jipões emplacados, majoritariamente automáticos, com raras opções manuais. Em 2011, foram 270 mil, que representava menos de 10% dos licenciamentos.
Ou seja, o percentual de automáticos subiu porque a demanda de SUVs (que têm tiquete médio bem mais caro que dos populares) mais que dobrou em dez anos, enquanto o número geral de emplacamentos caiu quase pela metade.
Preços
Quem busca um carro novo pode comprar um Mobi por R$ 50 mil. No entanto, se quiser a comodidade da caixa automática, o valor salta para R$ 65 mil. É o que é cobrado pela opção mais acessível do Chevrolet Onix, com transmissão automática de seis marchas. Fiat Argo Trekking 1.8 AT6 surge por R$ 75 mil, enquanto o Volkswagen Polo MSI 1.6 parte de R$ 86,3 mil. Eles formam a trinca dos automáticos mais baratos.
No segmento SUV, que é a grande alavanca das caixas sem pedal de embreagem, o modelo mais barato é o Chery Tiggo 2 Look, com transmissão de quatro velocidades. O jipinho chinês parte de R$ 91 mil e é seguido pelo Fiat Pulse Drive 1.3, que utiliza transmissão CVT e que parte de R$ 94 mil.