A Polícia Federal concluiu que o áudio da conversa gravada pelo empresário Joesley Batista com o presidente Michel Temer, em 7 de março no Palácio do Jaburu, não foi editado ou adulterado. O Estado apurou que o laudo sobre a gravação aponta para mais de 100 interrupções, mas que nenhuma delas foi causada por agente externo ou realizada posteriormente à gravação.
De acordo com fontes ouvidas pela reportagem, a perícia realizada no Instituto Nacional de Criminalística (INC) relaciona as interrupções ao gravador utilizado. Um perito explicou ao Estado que o modelo de gravador utilizado efetua os "cortes" em momentos em que há silêncio. A ação espontânea do gravador tem como finalidade economizar bateria e espaço na memória do aparelho, mas não tem condições de alterar o áudio.
Ainda segundo fontes ouvidas pela reportagem, o software utilizado pelos peritos tem a capacidade de separar todos os sons captados pelo gravador e separá-los por faixas. A partir dessa técnica, explicou um perito, foi possível até melhorar a qualidade de alguns trechos inaudíveis da gravação.
O áudio da conversa de Joesley com Temer deu início à negociação de delação premiada dos executivos da JBS. Após a vinda à tona, da gravação, o presidente disse que o áudio havia sido adulterado. “Essa gravação clandestina foi manipulada e adulterada com objetivos nitidamente subterrâneos e incluída no inquérito sem a devida e adequada averiguação”, disse Temer, em pronunciamento dois dias após a gravação ser tornada público pelo Supremo Tribunal Federal. A defesa do presidente contratou um perito para analisar o material, que apontou que a gravação era “imprestável”.
Após pedido da defesa do peemedebista ao STF e também do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, o áudio foi encaminhado à Polícia Federal para a realização de perícia. A decisão foi do ministro Edson Fachin, relator do caso. A Procuradoria-Geral da República (PGR) não havia periciado o áudio antes de pedir a abertura de inquérito contra o presidente, mas realizou uma análise prévia do material.
A expectativa agora é de que a perícia seja incluída na denúncia que será oferecida por Janot contra Temer na semana que vem, para reforçar a acusação contra o presidente.
Na quinta-feira, 22, o criminalista Antônio Cláudio Mariz de Oliveira, responsável pela defesa de Temer, afirmou que será difícil pedir a anulação do acordo de colaboração premiada de Joesley Batista se a PF não mostrasse adulteração na gravação da conversa do empresário com Temer. "Aí preocupará", disse Mariz, quando perguntado sobre a possibilidade de o laudo da PF não mostrar adulteração.
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