Pesquisa aponta que 34% dos entrevistados que moram sozinhos estão endividados

Pedro Ferreira
pferreira@hojeemdia.com.br
13/06/2017 às 22:30.
Atualizado em 15/11/2021 às 09:04
 (Editoria de arte)

(Editoria de arte)

WESLEY RODRIGUES

DIFICULDADES – Representante comercial comissionado, Thales Santiago trabalha dobrado para ampliar a comissão quando está com dificuldade financeira

Viúva e morando sozinha há dez anos, a educadora infantil Lucinéia Carneiro, de 51 anos, não consegue bancar sozinha as despesas da casa, não tem condições de ter um plano de saúde e recorre à mãe todos os meses para conseguir pagar o aluguel.

Assim como ela, muitos que moram sozinhos estão no vermelho, mostra pesquisa do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), em parceria com o Sebrae, no âmbito do Programa Nacional de Desenvolvimento do Varejo.

Dos 600 consumidores acima de 18 anos e de todas as classes sociais entrevistados, e que vivem sozinhos em 27 capitais brasileiras, 34% têm uma dívida média de R$ 1,5 mil.

Oito em cada dez pessoas que moram só não se planejaram financeiramente para isso (80%), conclui a pesquisa. A justificativa de quase metade dos entrevistados é o fato de não ter ninguém para dividir as contas.

“Quando você mora sozinha, o controle da sua renda tem que ser muito grande. Você não tem ninguém para dividir as contas. Na verdade, eu vivo no vermelho o tempo todo. Não tenho condições de ter um plano de saúde e dependo do SUS”, reclama Lucinéia, que recentemente esperou mais de um mês por uma cirurgia no ovário.

O representante comercial Thales Santiago, de 27, saiu da casa do pai pela terceira vez para morar sozinho. Em pouco mais de um ano, ele já passou por três endereços e hoje aluga uma casa no Bairro Concórdia, na Região Nordeste de BH. “A primeira vez que saí de casa foi aos 18 anos. Trabalhava com venda de assinatura de celular e não dei conta de pagar as contas e voltei”, disse Thales.

Para conseguir arcar com seus compromissos, Thales trabalha dobrado. “Não tenho salário fixo e ganho por comissão. Quando falta dinheiro, corro atrás para ganhar mais comissão e não passar dificuldade. O que me incomoda é ter quase 30 anos e não conseguir uma reserva financeira”, lamenta Thales, que apesar das dificuldades não abre mão da liberdade de morar sozinho. “É uma experiência de vida muito boa. Abro mão de muita coisa, mas vale a pena essa liberdade”, conclui o representante comercial, que já recorreu a parentes e amigos para pagar contas.

Assim como Thales, o levantamento mostra que 93% das pessoas que vivem só são as únicas responsáveis pelo sustento da casa e que 66% não fazem um controle efetivo de seus gastos. As razões mais mencionadas para isso são a falta de importância que atribuem ao controle do orçamento (33%) e a falta de hábito e disciplina para fazer o controle diário (27%).

Controle
Para quem deseja morar sozinho, a dica do educador financeiro do SPC Brasil e do portal Meu Bolso Feliz, José Vignoli, é não se descuidar do controle financeiro e ter disciplina extra para manter os compromissos em dia. Sem controle, acrescenta, fica mais difícil conhecer os próprios limites, saber se há exagero no consumo de produtos supérfluos ou fazer planos para realizar metas maiores, como uma viagem ou a compra de um carro, por exemplo.
 

Cartões de crédito e de lojas têm sido os grandes vilões


Mudar de hábito de consumo é uma estratégia quando começa a faltar dinheiro para fechar as contas do mês. De acordo com o levantamento do SPC Brasil e da CNDL, 24% dos entrevistados disseram pesquisar e comprar produtos mais baratos. Outros 22% afirmaram pedir dinheiro emprestado a amigos ou parentes e 21% fazem cortes no orçamento como gastos com TV a cabo e supermercados. Mesmo assim, 25% dos entrevistados que moram sozinhos estão com o nome negativado e não conseguem pagar suas dívidas.

A dívida média de R$ 1,5 mil dos entrevistados, segundo a pesquisa, é proveniente principalmente do não pagamento da fatura do cartão de crédito (36%) e de cartões de lojas (20%). As maiores justificativas dos endividados são: diminuição de renda (23%), empréstimo do nome para terceiros (23%), desemprego próprio ou de alguém da família (22%) e problemas de saúde (20%). De acordo com a pesquisa, 40% dos entrevistados não souberam estimar quando pretendem pagar suas dívidas, 10% simplesmente não têm intenção de pagar, dos quais 78% alegam falta de condições financeiras.

Apenas 31% dos que moram só estão economizando no consumo de energia elétrica e 27% na compra de roupas e calçados como forma de pagar suas dívidas. Outros 40% dos inadimplentes não elaboraram qualquer planejamento mínimo para pagar contas atrasadas, correndo o risco da dívida virar uma bola de neve, principalmente se for de cartão de crédito ou de cheque especial.

“O ideal é reservar uma quantia, ainda que baixa, todo mês, rigorosamente, como se fosse uma conta fixa no orçamento como uma fatura de luz ou água. Desse jeito, o dinheiro será guardado e não gasto com outras contas do dia a dia ou lazer”, recomenda a economista-chefe do SPC Brasil, Marcela Kawauti.

  

  

© Copyright 2024Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por
Distribuido por