'GM Aurigae b'

Pesquisadora da UFMG descobre 'candidato' a planeta a 521 anos-luz do Sol

De acordo com o mapeamento feito por Bonnie Zaire, enquanto o raio da estrela GM Aurigae é o dobro do raio do nosso Sol, o corpo celeste tem massa similar a de Júpiter.

Do HOJE EM DIA*
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20/09/2024 às 13:53.
Atualizado em 20/09/2024 às 14:25
Ilustração da 'extrapolação potencial do campo magnético reconstruído na superfície da GM Aurigae', produzida pela pesquisadora (Imagem feita por Bonnie Zaire)

Ilustração da 'extrapolação potencial do campo magnético reconstruído na superfície da GM Aurigae', produzida pela pesquisadora (Imagem feita por Bonnie Zaire)

Uma pesquisadora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) descobriu um candidato a planeta. O corpo celeste foi detectado orbitando no disco circunstelar de uma estrela T Tauri clássica, a “GM Aurigae”, em uma região de formação estelar situada a 521 anos-luz do Sol. A responsável pela descoberta é a belo-horizontina Bonnie Zaire, residente de pós-doutorado no Departamento de Física do Instituto de Ciências Exatas (ICEx).

A novidade foi revelada em artigo publicado neste mês na revista Monthly Notices of the Royal Astronomical Society, do Reino Unido. A denominação dada ao planeta é “GM Aurigae b” – o nome da estrela que ele orbita mais a letra b (a estrela, portanto, seria o “A”.)

Trata-se de um candidato a planeta porque, por convenção do campo científico, o termo “candidato” é usado para se referir a planetas detectados pela primeira vez, por meio de uma técnica específica. O termo “confirmado” só passa a ser usado a partir do momento em que o planeta é detectado novamente, por meio de novos dados, coletados com outro telescópio, seja pelo mesmo ou por outro pesquisador. Nesse caso, tanto os responsáveis pela descoberta quanto os que a confirmaram recebem os créditos correspondentes.

Bonnie Zaire é graduada e mestre em Física pela UFMG e doutora em astrofísica pela Universidade Paul Sabatier, na França (Mateus Miranda / UFMG)

Bonnie Zaire é graduada e mestre em Física pela UFMG e doutora em astrofísica pela Universidade Paul Sabatier, na França (Mateus Miranda / UFMG)

De acordo com o mapeamento feito por Bonnie Zaire, enquanto o raio da estrela GM Aurigae é o dobro do raio do nosso Sol, o planeta GM Aurigae b tem massa similar a de Júpiter. Mas, diferentemente do Júpiter do nosso Sistema Solar, aquele é um “Júpiter quente”, como os astrofísicos costumam dizer, já que o planeta se situa realmente muito próximo de sua estrela.

Para efeito de comparação, a distância entre o planeta descoberto por Bonnie e a estrela que ele orbita é cinco vezes menor que a distância que Mercúrio guarda em relação ao nosso Sol e doze vezes menor que a distância entre o Sol e a Terra.

Entre os primeiros da história

Em toda a história da astrofísica, esta foi apenas a segunda detecção de um planeta ou sistema planetário orbitando uma estrela jovem com disco protoplanetário. A primeira ocorreu no fim da década passada.

“A rigor, existem 5.747 planetas detectados até hoje, mas, entre todos eles, apenas três foram identificados nos estágios iniciais da formação planetária, que é quando a estrela [que o potencial planeta orbita] tem um disco de gás e poeira chamado de disco protoplanetário”, explica Bonnie, graduada e mestre em Física pela UFMG e doutora em astrofísica pela Universidade Paul Sabatier, em Toulouse, na França.

O planeta detectado pela pesquisadora é um desses três. Os outros dois foram identificados conjuntamente, orbitando uma mesma estrela, a CI Tau. Por isso, a detecção de Bonnie é considerada a segunda da história e não a terceira (sobre essa primeira descoberta, leia mais aqui, aqui e aqui). 

Em razão da relevância dos achados coligidos no artigo, ele servirá de base para o aprimoramento de teorias existentes e para a elaboração de novas teorias sobre o nascimento e a evolução de planetas. Bonnie agora planeja investir em pesquisas que confiram mais precisão aos parâmetros da sua descoberta – em especial, em relação à massa e à órbita do seu planeta.

“O objeto que eu estudo [isto é, a estrela GM Aurigae] é como se fosse um Sol bem jovem. Se o nosso Sol tem quase 4,5 bilhões de anos, essa estrela tem cerca de 1,5 milhão de anos – é uma diferença realmente muito grande. Então estamos falando de um estágio muito inicial do processo de formação de um Sol tal como o Sol que temos hoje. Em razão disso, o trabalho que desenvolvemos tem o potencial de nos ajudar a compreender como o nosso Sol se tornou o que é hoje”, explica a pesquisadora. E, no limite, ajudar-nos também a inferir como ele seguirá se desenvolvendo.

Como foi a descoberta

Bonnie usou técnicas relacionadas à medição da velocidade radial (isto é, relacionadas à medição do movimento relativo que a estrela faz no sentido de se aproximar ou de se afastar do observador). Por meio delas, a pesquisadora pôde perceber que, em vez de fazer um giro perfeito em torno de si mesma, a estrela GM Aurigae de certa forma “dançava” em torno do seu centro.

A descoberta foi possível graças ao uso do SPIRou, um espectropolarímetro de infravermelho próximo (nIR) instalado no Telescópio Canadá-França-Havaí (CFHT). Esse telescópio funciona em um observatório situado no cume de um vulcão do Havaí, a mais de 4 mil metros acima do nível do mar. Por sua localização estratégica (a alta altitude, o limpo céu havaiano, a ausência de poluição luminosa urbana etc.), ele tem servido muito a pesquisas relacionadas à busca de exoplanetas (planetas situados fora do Sistema Solar), tais como o descoberto por Bonnie.

* Com informações da UFMG

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