Pesquisadores obtêm controle do diabetes tipo 1 com células-tronco

Agência Brasil
21/10/2012 às 11:46.
Atualizado em 21/11/2021 às 17:24

São Paulo - Herdeiros de uma técnica idealizada pelo reumatologista Julio César Voltarelli, morto em março deste ano, estão obtendo respostas favoráveis ao controle do diabetes tipo 1, doença considerada infanto-juvenil por atacar, principalmente, a população mais jovem. Um grupo de voluntários que se submeteu aos primeiros testes conseguiu se livrar das aplicações de insulina ou, ao menos, diminuir as doses do hormônio.

O tratamento é baseado na aplicação de células-tronco. Os estudos sob a coordenação de Voltarelli, iniciados há seis anos, ganharam seguidores fora do Brasil - na Polônia e na China - e prosseguem com desdobramentos desenvolvidos por médicos do Hemocentro e do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto, no interior paulista, juntamente com especialistas dos Estados Unidos, França e Inglaterra.


A atual coordenadora dos trabalhos, a reumatologista Maria Carolina de Oliveira Rodrigues, explicou que tanto o diabetes tipo 1 quanto o 2 são caracterizados por provocar aumento no nível de glicose no sangue. O tipo 1 é menos frequente, mas também tem prevalência significativa. Quem sofre do mal têm gradual falência do pâncreas, devido à destruição das células que produzem insulina, hormônio essencial para o controle do nível de açúcar.

O tratamento tradicional é a aplicação regular de insulina, “o que afeta a qualidade de vida dessas pessoas e ainda aumenta os riscos de, no futuro, se desenvolver problemas nos rins, nos nervos e de vista”, salientou a médica. Segundo ela, quando o paciente recebe o diagnóstico da doença, normalmente, ainda tem preservados entre 20% a 30% do pâncreas. É nessa porção de vida da glândula que os pesquisadores iniciaram a busca do controle do mal, em 2004, sob a coordenação de Voltarelli, com o uso das células-tronco.

Na primeira etapa da pesquisa, encerrada em 2010, foram feitos testes em 25 voluntários. Os tratamentos consistiram na coleta e congelamento de células-tronco hematopoiéticas – percussoras dos glóbulos sanguíneos - da medula óssea. Em seguida, esses voluntários passaram por sessões de quimioterapia agressiva para destruir o restante da medula e zerar o sistema imunológico. Posteriormente, eles receberam as células-tronco congeladas para reconstituir a medula e as células sanguíneas.

“O resultado foi muito bom”, avalia a médica Maria Carolina, relatando que o nível conquistado surpreendeu a equipe. Das 25 pessoas que se submeteram ao tratamento, 21 deram respostas favoráveis. Três delas ficaram livres das aplicações de insulina e 18 voltaram a necessitar do hormônio, depois de um período de seis meses a cinco anos, mas em doses menores do que antes dos transplantes. “Não pode se dizer que estejam curados, mas com a doença controlada”, pontuou a reumatologista.

Na segunda fase, em andamento, os pesquisadores tentam obter melhor eficácia por meio de uma quimioterapia mais forte. O que se busca é que o paciente saia, totalmente, da dependência de insulina. Até agora, somente dois voluntários se apresentaram para se submeter aos testes.

Esses estudos estão sendo feitos no Centro de Terapia Celular (CTC), um dos centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (Cepids) da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP/USP), em interação com pesquisadores dos Estados Unidos, França e Inglaterra.

De acordo com a coordenadora desses trabalhos, o Brasil foi pioneiro nos experimentos e, após a divulgação em artigos científicos, a mesma técnica do transplante de células-tronco foi adotada em testes na Polônia e na China.

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