PF desmonta quadrilha que trazia vinho francês de R$ 3 mil a preço de arame

Ezequiel Fagundes
erios@hojeemdia.com.br
27/04/2016 às 07:34.
Atualizado em 16/11/2021 às 03:08
 (Wesley Rodrigues/ Hoje Em Dia)

(Wesley Rodrigues/ Hoje Em Dia)

Vinhos franceses de 900 dólares (R$ 3 mil) a garrafa, computadores e celulares de última geração, filmadoras, relógios, drones, suplementos alimentares. Tudo vendido sem nota fiscal e comprado a preço de arame. São essas algumas mercadorias contrabandeadas pela quadrilha com conexão em Miami, desmantelada ontem por uma força-tarefa da Polícia Federal (PF) e Receita Federal durante a operação Expresso Canadá. A ação ocorreu em Belo Horizonte e nos estados da Bahia, Rio, São Paulo, Espírito Santo e Distrito Federal.

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Segundo as investigações, as mercadorias vinham de Miami e chegavam no país pelo aeroporto do Galeão, no Rio. De lá, vinham para Minas, de caminhão, mas antes de chegar ao destino, que seria o aeroporto de Confins, os produtos eram levados para um depósito clandestino Bairro Jardim Canadá, em Nova Lima. 

No galpão, a quadrilha violava o cofre de carga, contido nos caminhões, e realizava a substituição das mercadorias de alto valor por produtos com alíquota de imposto reduzida, como arames e impressoras.

De 2014 até agora, a estimativa de sonegação é de R$ 20 milhões a partir de documentos com falsa declaração de conteúdo.

Alvos

Dez mandados de prisão temporária foram decretos contra empresários do ramo de importação, despachantes, ex-policial civil, além de quatro servidores da própria Receita Federal. Na região da Pampulha, em BH, foi preso em casa o auditor da receita Waldir Lage Caldas, lotado no aeroporto de Confins.

Durante cerca de duas horas, os federais realizaram busca e apreensão de documentos na residência de Caldas.

De 2014 até agora, a estimativa da Polícia Federal (PF) é de que sonegação fiscal atingiu o montante de R$ 20 milhões a partir de documentos com falsa declaração de conteúdo

 
Os outros três auditores da Receita do Rio foram alvos de condução coercitiva. Os servidores públicos são suspeitos de acobertar o esquema de contrabando e, em troca, receber vantagens indevidas.

Os empresários Cristiano Rodrigo Gomes e Júlio César Gomes, além de Daniel Fillizzola Drumond, da, da El Shadday Technology, também tiveram a prisão temporária decretada, juntamente com o despachante Breno Machado Eugênio Júnior.

Além das dez prisões temporárias, houve 16 conduções coercitivas e 21 mandados de busca e apreensão de documentos. Os mandados foram expedidos pela juíza Rogéria Maria Castro Debelli, titular da 4ª Vara da Justiça Federal em BH, local onde se concentra a investigação.

Os advogados dos detidos foram procurados ontem, mas não falaram alegando que não tinham conhecimento do inquérito.

Próxima etapa da investigação será identificar clientes e patrimônio dos servidores da Receita

Responsável pela operação Expresso Canadá, que desmontou ontem esquema de contrabando de produtos importados e sonegação de R$ 20 milhões, a delegada da Polícia Federal (PF), Bruna Rizzato Barbosa, afirmou que a próxima etapa será identificar os receptores das mercadorias.

Em entrevista coletiva para imprensa, a delegada declarou já ter reunido indícios de que os clientes da quadrilha tinham pleno conhecimento de que se tratava de produtos contrabandeados. Ou seja, sem qualquer comprovante fiscal. 

"Os clientes compravam com conhecimento”, disse Bruna Rizzato.

Além de descobrir quem adquiria as mercadorias, a força-tarefa da Expresso do Canadá vai apurar ainda se o patrimônio dos servidores da Receita Federal condiz com a renda. O auditor fiscal Waldir Lage Caldas, por exemplo, foi preso em mansão equipada com piscina e quadra de tênis. Na garagem dele, dois veículos importados. 

“Tudo isso será averiguado de agora em diante com a busca e apreensão de documentos. Além das sanções criminais, a Receita vai abrir uma sindicância interna que pode, em última instância, gerar até expulsão”, explicou Fabiano Barros da Rocha, chefe da corregedoria da Receita Federal em Minas.

Os suspeitos serão indiciados por contrabando e descaminho, organização criminosa, corrupção ativa e passiva, além de crimes contra o sistema financeiro. As penas, dependendo do número acusações, vão de sete a 18 anos de prisão.

Segundo as investigações, o cabeça do esquema é um dos empresários do ramo de importação.

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