BRASÍLIA – A Polícia Federal (PF) deflagrou nesta quarta-feira (15) operação para desarticular uma quadrilha que trazia para o Brasil, ilegalmente, imigrantes que eram submetidos a trabalho em condições análogas à escravidão. Foram cumpridos 14 mandados de busca e apreensão no Distrito Federal. Ninguém foi preso, mas a PF informou ter identificado os integrantes do esquema, entre eles, quatro “coiotes”, como são chamados os responsáveis por ingressar em território brasileiro com as vítimas.
Segundo o delegado federal Dennis Cali, os envolvidos com o esquema vinham de Bangladesh, pequeno país asiático onde o grupo aliciava seus conterrâneos com a promessa de salários que, de acordo com a PF, variavam entre US$ 1 mil e US$ 1,5 mil. Ainda conforme a polícia, cada interessado em uma das prometidas vagas de emprego pagava ao grupo quantias que podiam chegar a US$ 10 mil, valores gastos inclusive com a viagem ao Brasil.
Para trazer os imigrantes aliciados, a quadrilha utilizava rotas a partir da Bolívia, da Guiana Inglesa e do Peru, passando por Boa Vista (RR), Assis Brasil (AC) ou por Corumbá (MS). Uma vez no Brasil, a quadrilha fazia com que os imigrantes pedissem refúgio ao governo brasileiro como forma de regularizar sua situação.
Cerca de 80 vítimas do golpe foram encontradas vivendo em oito casas em Samambaia, cidade que faz parte da área de Brasília. De acordo com o delegado, inicialmente os trabalhadores eram contratados por frigoríficos. Em um segundo momento, passaram a trabalhar também na construção civil e em outros serviços terceirizados, como lava-rápido.
Como são vítimas de tráfico de pessoas para exploração econômica, Cali entende que todos os trabalhadores nessa situação podem ser beneficiados por uma resolução do Conselho Nacional de Migração que garante o direito de permanência deles no país.
Durante entrevista à imprensa, o delegado informou que, ao contrário do que chegou a ser noticiado por alguns veículos de imprensa, a PF não encontrou, até o momento, vínculos entre as empreiteiras que contratavam a mão de obra e qualquer programa do governo federal, como o Minha Casa, Minha Vida.
Após participar de audiência pública na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) do Senado, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, a quem está submetida a PF, destacou a importância da Operação Liberdade e do combate ao tráfico de pessoas.
“Este tipo de crime é um crime de difícil percepção na medida em que as pessoas têm medo de denunciar. Estamos começando a agir agora porque a sociedade está se levantando, a sociedade está informando, a sociedade está criando as condições para que a Polícia Federal possa agir. E isso é muito bom”, disse o ministro. “O tráfico de pessoas, infelizmente, existe e faz tempo. E se vocês observarem o número de inquéritos abertos ao longo do tempo, é muito pequeno perto do volume que temos a percepção de que esse crime ocorre, mas as pessoas estão se sentido mais animadas a informar”, concluiu o ministro.