SÃO PAULO - A Polícia Federal iniciou investigação para apurar os motivos e responsáveis pela explosão de um artefato na quinta-feira (7) no prédio da seccional da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) do Rio de Janeiro. Por volta das 15h30 de ontem, um pequeno artefato explodiu no 9º andar do edifício Sobral Pinto, sede da entidade, no centro do Rio. O imóvel foi esvaziado e ninguém ficou ferido.
Segundo o advogado Wadih Damous, ex-presidente da OAB-RJ, o Disque-Denúncia do Rio recebeu uma ligação anônima informando que ele seria o alvo do atentado. "Houve uma ligação dizendo que alguns militares da reserva estariam tramando o meu assassinato e explodiriam três bombas na OAB-RJ", disse Damous.
O episódio acontece às vésperas da nomeação dele para a presidência da Comissão da Verdade do Estado do Rio. Damous, que preside a Comissão de Direitos Humanos do conselho federal da Ordem, não descartou que possa haver relação entre o atentado e sua nomeação, mas evitou fazer acusações.
"Todos nós sabemos que os militares da reserva são hostis à ideia de uma Comissão da Verdade, não admitem a apuração dos fatos ocorridos à época da ditadura, isso é um fato público e notório. Existe uma resistência aqui no Brasil muito grande a essas investigações", disse o advogado.
"Aí acontece de uma entidade como a OAB-RJ, que já foi vítima de um atentado a bomba à época da ditadura, eu como ex-presidente na véspera de ser nomeado para a Comissão da Verdade do Rio, estouram um artefato lá. Obviamente a conclusão acaba indo nesse rumo. Se é verdade ou não, só as investigações vão dizer."
Em 27 de agosto de 1980, um atentado a bomba na seccional fluminense da Ordem provocou a morte da funcionária Lydia Monteiro da Silva e feriu outra pessoa. "Se de fato [o atentado] aconteceu nos moldes em que está sendo apresentado, como tentativa de intimidação, não vai funcionar, a futura Comissão da Verdade do Rio não vai se deixar intimidar por isso", declarou o futuro presidente do grupo.
A nomeação dos sete membros que integrarão a comissão fluminense será feita por decreto do governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), previsto para ser publicado no Diário Oficial no Rio de Janeiro na próxima segunda-feira.
Nota
A Comissão Nacional da Verdade divulgou na noite de ontem uma nota em solidariedade à subseção fluminense da OAB e cobrando "rigorosa apuração" sobre o caso. "A Comissão Nacional da Verdade [...] repudia com veemência o ato intimidatório cometido na sede da Ordem dos Advogados do Brasil-RJ, e a ameaçadora mensagem recebida no local afirmando que o ato visava matar seu ex-presidente, Wadih Damous, a ser nomeado presidente da Comissão Estadual da Verdade, na segunda-feira, pelo governador Sérgio Cabral", diz trecho da nota, assinada por Rosa Maria Cardoso.
"A Comissão Nacional da Verdade espera que se apure a autoria e se puna os que pretendem negar ao Brasil o caminho da democracia e das liberdades", finaliza o texto.