(José Cruz)
Com uma bancada composta por 69 deputados federais e 17 senadores, o PMDB oficializa nesta terça-feira (29) a saída do governo da presidente Dilma Rousseff (PT) tornando factíveis as chances da chefe do Executivo brasileiro ser impedida de exercer as funções, conforme relatos de parlamentares e especialistas.
Com os peemedebistas fora do barco, legendas aliadas também avaliam uma debandada. É o caso do PR, PSD, PTB e PP.
Hoje, a presidente conta com 91 deputados que votariam contra o impeachment em andamento na Câmara. Por isso, os 69 parlamentares do PMDB são tidos como essenciais ao governo. A presidente precisa de 172 votos na Câmara para barrar o impeachment.
Atrativos
Após o enfraquecimento da presidente, nem mesmo os ministérios são capazes de manter o PMDB na base. Nos últimos doze anos - governos Dilma e Lula - os cargos federais foram um grande atrativo ao partido. Hoje, a sigla comanda sete pastas com orçamento de R$ 83,7 bilhões.
Ontem, o dia foi de intensas negociações. O ex-presidente Lula desembarcou em Brasília para tentar conter o PMDB. A própria Dilma recebeu os ministros do partido.
Segundo interlocutores, as tentativas foram em vão. Em outra ponta, Michel Temer negociou com peemedebistas aliados ao governo o desembarque. Tentou dissuadir o presidente do Senado, Renan Calheiros.
Calheiros teria dito que fica na base. Porém, pelas contas de parlamentares, será minoria.N/A / N/A
Presidente do Senado, Renan Calheiros, diz que fica ao lado do governo em caso de debandada do PMDB da base
Debandada
O movimento do maior partido no Congresso puxará outras legendas. Para o deputado federal Bilac Pinto (PR-MG), o desembarque do PMDB irá desencadear o mesmo processo em partidos como PR, PP e PSD.
Mesmo com a promessa de terem papel de protagonistas nos ministérios e autarquias, os deputados, que até então eram aliados, não devem seguir apoiando o governo.
“Penso que o correto agora é nos afastarmos de um governo que não tem capacidade de governar e vem perdendo credibilidade”, afirmou. De acordo com ele, a maioria dos 40 deputados do PR votará a favor do processo de impeachment.
À frente dos Ministério das Cidades, o PSD decidiu liberar seus 31 deputados para votar como quiserem em relação ao impeachment. O PP, que comanda o Ministério da Integração, já cogita também liberar oficialmente sua bancada, a terceira maior da Casa, com 49 parlamentares.
No PSD, a liberação teve anuência do ministro das Cidades e presidente nacional da sigla, Gilberto Kassab. De acordo com um dirigente do PSD, atualmente, pelo menos 70% da bancada da Câmara é favorável ao impeachment.
E que a tendência é de que, assim como os deputados, a bancada do partido no Senado, composta por três senadores, também seja liberada para votar como quiser.
Hoje, o governo só conta como 100% certo os votos de todos os deputados do PT, PDT e PCdoB.
Sem sustentação
Com tantas evidências de um rompimento definitivo do PMDB com o governo, especialistas afirmam que não há mais possibilidades reais de permanência da presidente Dilma Rousseff no Palácio do Planalto.
O professor de Ciência Política do Ibmec/MG Adriano Gianturco explica que divergências dentro do próprio PMDB podem até provocar rachas internos, mas ainda assim as chances de salvação da presidente seriam poucas.
“Na economia, quando o dinheiro acaba, acabou. Em política, quando acaba o dinheiro, alguém tem o poder de pegar mais. Agora o problema é que o governo não tem mais verba para convencer alguns lobos soltos do PMDB a virarem a conta o impeachment”, avalia.
Para Gianturco, a queda de Dilma será uma consequência imediata do desembarque dos peemedebistas. Para ele, não há possibilidade de se governar sem o apoio de aliados.
No entanto, com Temer na presidência, o professor afirma que o governo precisará mudar completamente de rota.
“Tem que cortar (custos) para que as pessoas possam produzir, se não as expectativas voltam a ser negativas. A probabilidade do ajuste (fiscal) aumenta. Temer terá que fazer. Vai ser um novo governo Itamar Franco”, alega Gianturco.
Deputados mineiros
Acompanhando a posição de outros 14 diretórios estaduais, deputados do PMDB de Minas Gerais decidiram, ontem, pelo desembarque do governo Dilma Rousseff. A decisão foi quase que por unanimidade. Houve apenas uma abstenção.
Conforme o vice-governador do Estado e presidente do PMDB mineiro, Antônio Andrade, Minas tem dez representantes no diretório nacional que votarão a favor da entrega de todos os cargos no governo federal.
“Não quer dizer que seremos oposição. Isso ainda não foi discutido. Alguns falam que vão continuar sendo situação, outros não. Mas os dez votos serão pela entrega de todos os cargos”, disse.
Segundo ele, a executiva estadual achou por bem entregar todos os cargos para ficar livre para votar contra ou a favor do afastamento da presidente Dilma Rousseff. “Eles (peemedebistas com cargos no governo) disseram que não fica bem para eles manterem os cargos quando o povo está pedindo para saírem”.
Andrade também mencionou que o Estado não foi “contemplado” como deveria, com relação aos recursos destinados pelo governo federal, levando em conta a votação expressiva que Dilma teve em Minas no segundo turno das últimas eleições.Lucas Prates / N/A
Antônio Andrade, vice-governador e presidente do PMDB mineiro: “Não quer dizer que seremos oposição. Isso ainda não foi discutido”
Além dos sete ministérios que possui na Esplanada, a legenda conta atualmente com cerca de 600 cargos no governo federal, que devem ser entregues após decisão de hoje da executiva nacional.
Com a debandada em Minas, a tendência é que os outros estados sigam a decisão. O PMDB possui diretórios nos 26 estados e no Distrito Federal.
A bancada do partido na Câmara dos Deputados é composta por seis parlamentares mineiros e um representante de Minas no cargo de ministro da Aviação Civil, ocupado por Mauro Lopes.
Para Antônio Andrade, apesar de Mauro Lopes ter demonstrado agir com certa autonomia, ele também deverá entregar o cargo. “Se essa for a decisão da executiva nacional amanhã (hoje) ele também deve sair do ministério”, afirmou.
Governo estadual
Segundo Andrade, a relação dos deputados mineiros com o governo de Fernando Pimentel não será afetada pela decisão de rompimento com o governo Dilma. Pelo menos neste primeiro momento.
“A relação com o governo do Estado está muito boa. O PMDB e o PT em Minas vivem de forma harmônica. Agora não é o momento de discutir isso”Editoria de Arte/Hoje em Dia / N/A