Uma característica das políticas econômicas que vêm sendo concebidas e executadas atualmente no Brasil é a sua absoluta carência de boas e inovadoras ideias. Parece cada vez mais um samba de uma nota só. O nosso processo de desenvolvimento sustentável tem inúmeros desafios a serem superados. O nosso sistema produtivo apresenta baixo nível de competitividade global com a exceção de poucos segmentos empresariais entre os quais se destaca o agronegócio. A sociedade brasileira ainda é uma das mais desiguais do mundo quanto à distribuição da renda e da riqueza entre grupos sociais, regiões e famílias. É grave o processo de degradação dos nossos ecossistemas pilhados por muitos agentes econômicos que tratam a natureza como se fosse apenas um mega almoxarifado de recursos ambientais infinito em sua disponibilidade.
Entretanto, ao formular uma política econômica para o país, o governo federal insiste em restringir o seu escopo às questões de curto prazo, basicamente às questões do equilíbrio fiscal, do controle inflacionário e do déficit nas contas externas. Coloca por debaixo do tapete todos os demais objetivos que se relacionam com as questões estruturais do desenvolvimento nacional. Mas esse estilo de fazer política econômica sem estruturar as expectativas e as motivações das instituições e dos protagonistas do sistema leva a alguns desastres socioambientais e ao mal estar econômico.
As questões estruturais da economia têm uma dinâmica própria em sua evolução e o tempo não para enquanto o governo cuida da austeridade fiscal. Sem intervenção das políticas públicas sociais, os indicadores das desigualdades tendem a se reproduzir, ou seja, filho de pobre acaba sendo igualmente pobre. Sem políticas públicas ambientais, as ações cotidianas das organizações produtivas e dos consumidores desmatam mais nossas reservas florestais, poluem mais as nossas bacias hidrográficas e aquecem mais o nosso planeta. Sem programas eficazes de melhoria da produtividade e da competividade sistêmica, a nossa economia se distancia cada vez mais das cadeias produtivas globais mais dinâmicas e inovadoras.
A grave questão se situa no posicionamento de muitos de nossos economistas que passam ao largo da riqueza de ideias e de experiências que vem evoluindo no campo da concepção e da implementação das políticas tanto no espaço institucional das academias científicas quanto no espaço da gestão pública criativa em diferentes países ou união econômica de países. Por exemplo, o Prof. Edmund Phelps, que ganhou o Prêmio Nobel de Economia em 2006, nos adverte que há pelo menos sete escolas de pensamento macroeconômico que geram direções e hipóteses diferentes para governar a economia.
Para ele, há uma diversidade ou pluralismo de abordagens no tratamento das questões macroeconômicas e que não há um único modelo ou uma única escola (a da austeridade fiscal expansionista, por exemplo) que esteja adequada e correta para todo lugar e todo tempo. Esse pluralismo se amplia e se diversifica quando articulamos de forma politicamente factível as ideias que permeiam as escolas do pensamento macroeconômico de curto prazo com as teorias do desenvolvimento sustentável no médio e no longo prazo.
Como afirma Mark Blyth, ideias permitem que os agentes reduzam as incertezas, proponham uma solução particular para um momento de crise e empoderam agentes para resolver determinada crise construindo novas instituições alinhadas com novas ideias. Mas nada disso ocorre se há deserto de ideias num país.