A Polícia Civil investiga supostos maus-tratos e crime ambiental num abrigo da União Protetora dos Animais (UPA) em Campinas, interior de São Paulo. A entidade foi fundada pelo deputado estadual Feliciano Filho (PEN), que foi vereador na cidade, e usa o trabalho de defesa de animais como principal bandeira política.
Nesta quarta-feira, 14, a polícia encontrou 44 cães em situação precária e cinco filhotes mortos dentro de um freezer, onde também era guardada carne moída. Nesta quinta-feira, fiscais da prefeitura estiveram no local e constataram que o estabelecimento funcionava sem alvará. O abrigo funciona numa chácara, próxima à Rodovia Anhanguera.
O Departamento de Vigilância em Saúde esteve nesta quinta-feira no local com a polícia, constatou infrações sanitárias e notificou a entidade, que pode ser multada. Cinco dos cães, que são retirados das ruas ou doados, foram tirados nesta quinta do local. A delegada Rosana Mortari, do Setor de Proteção aos Animais e Meio Ambiente de Campinas, disse que encontrou os cães em um ambiente sem cobertura, expostos à chuva e ao frio e sem isolamento término no chão. Dos 44 animais, dez estavam doentes em situação grave.
De acordo com Rosana, a ração era guardada numa caixa-d'água, com ratos no local. Foram encontrados também remédios vencidos, despejo de dejetos diretamente num córrego e os animais mortos no refrigerador. Os filhotes morreram de parvovirose, segundo apontou um laudo concluído hoje, e deveriam ter sido incinerados. "Viemos cumprir um mandato por conta de uma denúncia de maus-tratos. Os animais mortos e o crime ambiental foram surpresas", afirmou.
Depoimentos
O presidente da UPA, Vicente Carvalho e Silva, que cuida da entidade para Feliciano Filho e é ex-vereador pelo PV, negou maus-tratos e disse que os animais mortos seriam enviados para cremação. Conforme Silva, os bichos estavam há dois dias na geladeira e a carne encontrada era estragada e também seria mandada para incineração. A delegada disse que, quando chegou ao local, a geladeira onde estavam os cães mortos e a carne estava desligada.
A UPA foi criada há 13 anos pelo deputado estadual do PEN de São Paulo. Feliciano Filho acusou Rosana de ter motivação política. "É perseguição política. Ela (delegada) foi candidata a vereadora e todo mundo sabe das pretensões dela de ser candidata a deputada pelo PMDB", afirmou. "A quantidade de viaturas no local, toda imprensa avisada, foi montado um espetáculo. Parecia que estavam prendendo um traficante." Rosana afirmou que apenas cumpriu ordem judicial. "Eu só fiz meu trabalho. Tenho um inquérito, nove oitivas, mandado da Justiça, auto de infração, quatro laudos e fotos que comprovam os problemas", disse.
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