O presidente do PSDB e pré-candidato à Presidência da República, Aécio Neves, pretende fazer sua campanha blindado dos problemas do PSDB, a exemplo do mensalão mineiro e do cartel do metrô de São Paulo, mesma fórmula adotada pela então candidata Dilma Rousseff, em 2010, que disse não ter nada a ver com os escândalos petistas. "Se tiver alguém do PSDB que recebeu propina e se isso ficar provado, tem que ir para a cadeia também", afirmou o senador durante jantar na quarta-feira (11) no restaurante Piantella, com cerca de 30 jornalistas, em Brasília.
Aécio disse que vai insistir muito nas questões éticas durante a campanha. E que, diferentemente do PT, jamais vai proteger ou acobertar aqueles que estiverem envolvidos em irregularidades. Por isso mesmo, afirmou, não tem nenhum receio de que as questões relacionadas ao mensalão mineiro - que tem entre os envolvidos o deputado Eduardo Azeredo, ex-presidente do PSDB - e com o cartel dos trens o atinja.
"Chegar em mim? Zero. Não tenho nada com isso", disse ele. O senador tucano lembrou ainda que o PT vai usar o congresso do partido, que começa hoje, em Brasília, para fazer um ato de desagravo aos mensaleiros. No PSDB, segundo ele, o tratamento é diferente. "Se alguém cometeu ilícitos, vai responder".
Informado sobre a votação do Supremo Tribunal Federal (STF), que caminha para restringir a doação de empresas privadas para campanha eleitoral, Aécio lamentou: "É a volta do caixa dois vindo aí. Ou melhor, o caixa dois vindo com ainda mais força".
O jantar foi realizado no Espaço Ulysses Guimarães, do Piantella, que fica no andar de cima do restaurante. "Foi aqui que Ulysses Guimarães e Tancredo Neves (avô de Aécio) fizeram todas as negociações que resultaram na redemocratização do Brasil. Foi aqui que eles fizeram o acordo que possibilitou a Tancredo ser candidato a presidente da República", disse Marco Aurélio, dono do restaurante. Para em seguida acrescentar: "É aqui, neste jantar, que está o futuro presidente do Brasil".
O senador tucano disse que deverá se mostrar como candidato a partir de março, mês que considera ideal para dizer que vai disputar a Presidência e quando vence o prazo do acordo que fez com o ex-governador José Serra para fazer o anúncio. Ele afirmou que está preparando "vacinas" para a campanha.
A primeira delas foi o projeto que torna lei o programa Bolsa Família, uma das oficinas de votos do PT, a defesa das privatizações ("o PT só acerta nas privatizações quando copia nossa fórmula e jamais vamos renegar o sucesso de nossa proposta") e no programa Mais Médicos, que ele considera um forte ativo do governo. Acha que deve ser mantido, mas com algumas mudanças. "Os médicos cubanos têm de receber salário (hoje o governo brasileiro paga ao governo cubano pela prestação de serviço deles). Eu reformularia esse contrato".
Aécio Neves previu ainda que haverá segundo turno. E, enquanto discute alianças regionais e apoio mútuos no segundo turno com o pré-candidato do PSB, governador de Pernambuco, Eduardo Campos, ele elaborou sua estratégia para tentar diferenciar sua campanha da do socialista: "Não existe meia mudança, nós seremos a mudança", disse ele durante o jantar.
Diante da última pesquisa realizada pelo Datafolha, revelando que 66% da população quer mudança nos rumos do Brasil, os tucanos apostam que o pernambucano não poderá assumir esse discurso, já que ele e o PSB participaram do governo petista nos últimos dez anos.
Ele chegou a brincar sobre a situação do PT na cidade de São Paulo, onde o prefeito Fernando Haddad não está bem avaliado. "Dizem até que nosso estrategista lá foi o Lula" (padrinho da candidatura de Haddad).
Pelas contas do tucano, o PSDB pode ganhar nos Estados de São Paulo, Minas Gerais, tem chances no Rio de Janeiro e "na Bahia as coisas não vão tão bem para o PT". "O segredo será tentar perder de menos possível no Norte e no Nordeste do país", regiões em que os petistas são mais fortes.
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