Aécio reage e também usa 'caixa de ferramentas'

Débora Bergamasco
26/10/2014 às 09:06.
Atualizado em 18/11/2021 às 04:46

"Eu fiquei com muita raiva. Estava com muita raiva mesmo e, por isso, não me saí tão bem", confidenciou a colegas o candidato à Presidência Aécio Neves (PSDB) sobre sua atuação depois do primeiro debate do 2º turno, da TV Bandeirantes. Saiu do estúdio furioso com as acusações de sua adversária Dilma Rousseff de que teria praticado nepotismo pelo fato de sua irmã Andrea Neves ter cargo - voluntário - no governo de Minas quando fora governador do Estado. E, pior, perdeu o equilíbrio quando a presidente lançou insinuações sobre a prática de violência contra a mulher ao citar a Lei Maria da Penha.

A agressividade e o fator surpresa dos ataques da petista direcionados à irmã do tucano foram os ingredientes decisivos para reposicioná-lo na campanha, fazendo com que adotasse uma postura igualmente virulenta. Ali, ele fez uma opção e ajudou a rolar o nível das discussões eleitorais escada abaixo. Para formadores de opinião, esta tem sido a campanha mais baixa desde a redemocratização do País.

Um dia depois do confronto da Band e na preparação para o debate do SBT, que aconteceria no dia seguinte, Aécio chegou já de noite para uma reunião com o núcleo duro de sua campanha, em um escritório na zona oeste de São Paulo. Repetindo a rotina dos encontros que se estendem até de madrugada, pediu comida japonesa - para desalento dos demais, que preferem pizza. Com peixe cru e frutos do mar à mesa, exceto lula, Aécio foi claro. "Vamos ter de ir com tudo para cima deles."

Virada

A ordem foi abrir a "caixa de ferramentas", ou seja, o arsenal para atacar a presidente à altura. Aécio já estava sendo pressionado por parte da militância tucana para que assumisse uma posição mais combativa em relação ao PT, sob o risco de perder o engajamento da tropa, insatisfeita com o oba-oba propositivo e com as alianças programáticas do PSDB. Parte da equipe da campanha também julgava ser o momento de elevar os revides.

O marqueteiro de Aécio, Paulo Vasconcelos, demonstrava resistência. Mas, diante da ordem do cliente, subiu o tom. Decidido a não passar a impressão de ser "café com leite" ou de ser frágil como a ex-candidata Marina Silva, Aécio ficou na "reunião da guinada" até 2 horas da madrugada, paciente e aplicado. Diferentemente do início da campanha, quando os processos de preparação para grandes entrevistas, sabatinas ou debates eram atropelados por sua urgência em encerrar logo os encontros massacrantes.

Aécio chegou para o debate do SBT recomposto para o novo confronto e desabafou: "Hoje, não estou mais com raiva, estou bem". Esperou o primeiro ataque de Dilma sobre nepotismo e surpreendeu a candidata ao acusar o irmão dela, Igor Rousseff, de ter sido funcionário fantasma na prefeitura de Belo Horizonte, na gestão de Fernando Pimentel (PT), hoje governador eleito de Minas.

Um tanto abatido com as últimas pesquisas, que conferiram vantagem para Dilma, de acordo com levantamentos do Datafolha e do Ibope, Aécio tentou manter o discurso otimista. "Vimos no 1º turno a distância entre a vontade do eleitor e o que diziam as pesquisas."

Com o resultado negativo das intenções de voto, Aécio despachou o fantasma do "já ganhou". "Pesquisas servirão de ânimo para os companheiros que achavam que a coisa caminhava com naturalidade", disse Aécio, cuja candidatura ganhou certo fôlego com as mais recentes revelações do caso Petrobrás. Andrea Neves, irmã de Aécio, disse ao jornal O Estado de S. Paulo que o tucano nunca foi "obcecado" pela Presidência da República. "Na política, é muito triste quando a cadeira é maior do que a pessoa que está sentada nela." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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