Alianças garantem capilaridade, mas influência diminui

Ana Flávia Gussen e Ana Luiza Faria - Hoje em Dia
15/06/2014 às 10:43.
Atualizado em 18/11/2021 às 03:00
 (Flávio Tavares)

(Flávio Tavares)

Com uma coligação que reúne 20 partidos, o candidato ao governo pelo PSDB, Pimenta da Veiga, vai contar com 6.466 prefeitos, vereadores e deputados em sua campanha. Já a aliança de cinco partidos em torno da candidatura de Fernando Pimentel (PT) vai reunir 2.348 lideranças no interior do Estado. Apesar dos exércitos de cabos eleitorais, mudanças na postura do eleitorado brasileiro estão reduzindo o poder dessas lideranças, segundo especialistas ouvidos pelo Hoje em Dia.

Os fatores são variados. Além do descrédito da classe política, a melhoria econômica da população de baixa renda reduziu a dependência dessas pessoas dos caciques partidários. São mudanças sutis, segundo avaliaram especialistas, mas que terão impacto na forma de fazer política daqui para a frente.

“A capilaridade ainda é muito importante, pois são pessoas que estão muito próximas do eleitor. Mas as coisas estão mudando um pouco e por vários motivos. Um deles é a melhoria econômica da população, principalmente de baixa renda, que era refém dessas lideranças mais próximas. Agora, ela têm acesso a mais informação e um aumento na capacidade de compreender essa informação”, declarou a doutora em história e coordenadora do Centro de Convergência de Novas Mídias da UFMG, Regina Helena Alves da Silva.

As manifestações que estouraram em 2013 também ajudaram a desgastar a classe política. “Com as manifestações, as pessoas estão começando a compreender que existe o voto, que elas são co-responsáveis e que a democracia é participativa. Não basta eleger”, declarou Regina Helena. Soma-se a isso, segundo ressaltou a especialista, o fato de as militâncias serem cada vez menos ideológicas. “São militâncias pagas, que não convencem”.

O cientista político da UFJF, Paulo Roberto Figueira, também atribuiu à má imagem dos políticos o crescimento de um eleitorado cada vez mais crítico.

O especialista recorre às eleições de 2010 para mostrar que, antes mesmo das manifestações, tais lideranças políticas nem sempre significaram votos para seus candidatos. Na época, o candidato ao governo da aliança PMDB e PT, Hélio Costa, foi derrotado com a “traição” de prefeitos e líderes regionais. Durante a disputa, pelo menos 100 diretórios do partido sofreram algum tipo de intervenção por infidelidade.

"Muitos desses atores não são necessariamente confiáveis. Por medo de perder recursos, alguns acabam sendo infieis às coligações. O fato de ter nominalmente pessoas apoiando não significa envolvimento ou comprometimento”, declarou o especialista. Apesar disso, ele destaca a importância dos militantes para tornar o candidato, suas propostas e seu número de votação conhecidos da população.
 
Deputados se beneficiam mais de força no interior
 
Se, por um lado, a televisão e o rádio são os meios que mais influenciam votos nas disputas majoritárias, essa regra não se aplica aos candidatos ao Legislativo. Por não terem muitos espaços nesses veículos, o apoio das lideranças políticas acaba fazendo toda a diferença para eles.

Os programas no horário eleitoral e, principalmente, as inserções comerciais, ainda são os meios que permitem ao eleitorado uma ligação direta com os candidatos. Por isso, eles ainda são decisivos para a conquista do eleitor.

"O que ganha voto é campanha em televisão. Então, o que deve ser levado em consideração é o tempo de TV, isso no caso das candidaturas ao governo e à Presidência da República. A militância e os cabos eleitorais trazem votos para os deputados federais e estaduais, já que esses candidatos não possuem tempo suficiente para se apresentarem nos programas de TV”, afirma o cientista político Malco Camargos.
 
O poder da televisão, segundo explica o cientista político Paulo Roberto Figueira vem da “ligação direta” entre eleitor e candidato promovido por esse meio. “Cerca de 98% da população tem acesso à televisão aberta. Trata-se de uma ligação direta que dispensa a mediação”.
 
Importância de apoios divide líderes partidários
 
Representantes das duas principais coligações que vão disputar o governo de Minas divergem sobre a influência política dos cabos eleitorais no pleito desse ano. O presidente do PSDB de Minas, deputado federal Marcus Pestana, considera a campanha nas ruas tão importante quanto a da televisão.

“As conversas nas ruas, discussões e argumentações que surgem nas ruas são, sem dúvida, umas das melhores maneiras de aumentar o número de votos”, diz o tucano.

Pestana afirma que o grau de capilaridade que a aliança possui é muito importante. “Esse fato foi vital na virada do Anastasia nas eleições de 2010”, relembra. Ainda de acordo com o presidente do PSDB deve haver uma sincronia das estratégias da campanha com a opinião pública.

Por outro lado, o PT enxerga o trabalho das lideranças locais como um apoio. “Nossa coligação tem a maior representatividade em Minas Gerais”, declarou o deputado federal e um dos coordenadores da campanha de Fernando Pimentel, deputado federal Reginaldo Lopes (PT). Ele destaca que PT e PMDB estão no comando das maiores cidades do Estado.

Ainda segundo o deputado, os petistas possuem a vantagem do descontentamento da população com o atual governo. “Há 12 anos que os mineiros são enganados pelos tucanos”, afirma.

Insatisfação

O PSB, que ainda não definiu se lança ou não uma terceira via para o governo de Minas, possui apenas 400 lideranças partidárias no Estado.

Segundo o deputado federal e pré-candidato do partido ao governo de Minas, Júlio Delgado, esses números seriam relevantes caso a sociedade estivesse satisfeita com seus governantes, mas, no momento atual, eles não querem dizer nada.

“Em todo momento a capilaridade sempre preponderou, mas o que acontece agora é a falta de identificação com os políticos e, por isso, o número de lideranças perde a força”, explica.

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