(Montagem)
O episódio do ex-deputado Roberto Jefferson (PTB), que atacou policiais federais a tiros de fuzil e granadas nesse domingo (23), acendeu o alerta para possíveis impactos nas campanhas dos dois candidatos que disputam a Presidência da República neste segundo turno.
Especialistas escutados pelo Hoje em Dia ressaltam que ainda é cedo para apontar se o crime cometido pelo ex-deputado pode alterar algo no resultado das urnas no próximo domingo (30). Mesmo assim, com base nas primeiras horas pós-fato, divergem na previsão.
“Me parece que essa bomba estourou no colo do bolsonarismo”, comenta o professor e mestre em História e Culturas Políticas pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Ricardo Frei, ao fazer uma referência ao caso Riocentro, quando grupos reacionários do Exército Brasileiro planejaram um ataque terrorista em 1981, em protesto contra abertura política na Ditadura Militar. O plano deu errado, já que uma das bombas explodiu dentro de um carro e matou um sargento, além de ferir gravemente outro militar, ambos membros do grupo terrorista.
“Eu não consigo acreditar que todo esse movimento seja espontâneo, aleatório, a uma semana das eleições, com pessoas envolvidas diretamente no pleito”, avalia o professor, que acredita que a repercussão não foi boa para o candidato à reeleição. Ele ressalta, porém, que os bolsonaristas mais fiéis não devem se abalar, mas talvez os indecisos.
Entretanto, o professor condiciona a efetividade disso em como a campanha de Lula (PT) vai repercutir esse episódio no debate da TV Globo na sexta-feira (28) e nas inserções que o petista passa a ter direito de fazer, nesta semana, no espaço da campanha de rádio e TV de Bolsonaro.
Já o cientista político e professor de relações internacionais do Ibmec Christopher Mendonça releva o poder de efeito que teria os indecisos.
“Ainda é muito cedo para a gente verificar se houve algum impacto, mas eu acredito que não haverá muito. Estamos num momento em que as preferências eleitorais estão muito cristalizadas. Muitas pessoas já decidiram o seu voto, e uma camada muito pequena de votantes ainda não decidiu. Então, nesse sentido, o evento Roberto Jefferson pode não ter tanto efeito no resultado das eleições que acontecerão no próximo domingo”, destaca o especialista.
Ele ainda ressalta a atitude tomada pelo atual presidente, em posicionamentos sobre o crime cometido pelo seu outrora aliado Roberto Jefferson. Para o professor, as falas de Jair Bolsonaro devem minimizar ainda mais o impacto disso na reta final de campanha.
O caso
O ex-deputado federal Roberto Jefferson está preso no Presídio José Frederico Marques, também conhecido como cadeia de Benfica, na zona Norte do Rio de Janeiro. O parlamentar, que estava em prisão domiciliar, teve que retornar ao sistema penitenciário por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF).
Ele descumpriu medidas cautelares impostas, como não postar nas redes sociais. Na última sexta-feira (21), em vídeo publicado na internet, Jefferson atacou a ministra Carmen Lúcia, referindo-se a ela com palavras de baixo calão.
Durante o cumprimento da decisão do STF no domingo (23), na casa de Jefferson, em Levy Gasparian, no interior do Estado, o ex-parlamentar reagiu à prisão, lançando uma granada e atirando contra a equipe da Polícia Federal (PF).
Dois policiais foram atingidos por estilhaços da granada lançada por Jefferson e tiveram ferimentos leves.
O mandado de prisão só foi concluído à noite, depois de uma intensa negociação entre a PF e o ex-deputado. Além do cumprimento do mandado do STF, a PF prendeu Roberto Jefferson em flagrante por tentativa de homicídio, segundo nota divulgada pela polícia.
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