Bilhões evitam debandada dos aliados de Dilma

Ezequiel Fagundes - Hoje em Dia
10/03/2016 às 06:39.
Atualizado em 16/11/2021 às 01:45

Nem mesmo a fragilidade da presidente Dilma Rousseff (PT) e o cerco da operação “Lava Jato” da Polícia Federal (PF) são capazes de conter o apetite da base aliada pelos cargos do Palácio do Planalto.

Apesar das recentes ameaças, PMDB, PSD, PDT, PTB, PRB, PP e PR continuam no barco do governo de coalização da presidente Dilma Rousseff, conforme parlamentares ouvidos nessa quarta (9) pelo Hoje em Dia. Todos disseram que, caso saiam da base, perderiam os ministérios. A conta não compensa, conforme os relatos. Ao lado do PT e PCdoB, essas legendas aliadas controlam um orçamento anual de R$ 438 bilhões (dado de 2015).

Com sete ministérios e a vice-presidência, o PMDB é o partido mais contemplado. Mesmo tendo detonado o processo de impeachment, por meio do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), o partido deve emplacar essa semana o deputado federal Mauro Lopes (PMDB-RJ) na Secretaria de Aviação Civil, que tem status de ministério.

Com tanto espaço, a legenda ainda continua bastante descontente. Mesmo assim, não cogita deixar o governo, ao menos por enquanto. “O partido está bastante dividido. A permanência ou não no governo Dilma será amplamente discutida na convenção do partido, marcada para o próximo sábado. Esse assunto, com certeza, vai apimentar a convenção”, explica o deputado federal Saraiva Felipe.

Outro parceiro insatisfeito, mas que não larga o osso, é o PDT, que tem André Figueiredo, deputado federal pelo Ceará, no comando do Ministério das Comunicações. “A divergência com o governo é clara, especialmente, no campo econômico. Tanto que já temos Ciro Gomes como pré-candidato ao Planalto em 2018. Mas, nesse momento, vamos continuar na base. É uma posição partidária e assim vai ser”, argumento o deputado federal Mário Heringer, presidente do PDT em Minas Gerais.

Mais ameaças

Implicado no escândalo do Petrolão, junto com o PT e PMDB, o PP também vem ameaçando abandonar o governo. A legenda, no entanto, faz parte do governo Dilma com Gilberto Occhi, ex-ministro das Cidades, titular da pasta da Integração Nacional. “Não falo por mim, mas pela bancada. O partido está divido”, diz o deputado federal Toninho Pinheiro (PP-MG). Ele nega a saída da base no momento, e diz que o assunto é discutido no partido, que analisa a balança.

Desde a noite dessa terça (8), o ex-presidente Lula e a presidente Dilma conversam com aliados para evitar a debandada. Lula reuniu-se, em um café da manhã, com senadores do PMDB, na casa do presidente do Senado, Renan Calheiros.

 
 

Oposição

Sem espaço no governo, o PSB rompeu relações com a presidente Dilma e, agora, defende a saída da petista por meio do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Ou seja, quer a retirada de Dilma e Temer do poder para a realização de novas eleições. A mesma tese é defendida pela Rede, da ex-ministra Marina Silva.

Ainda nessa quarta (9), em outra frente, 27 senadores protocolaram uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC), de autoria do senador oposicionista Aloysio Nunes (PSDB-SP), que prevê a mudança do sistema de governo para o parlamentarismo no Brasil.

Análise

Para o cientista político da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Leonardo Avritzer, autor do livro “Impasse da Democracia no Brasil”, o atual modelo de coalizão utilizado no país desde 1994 se esgotou. “O governo de coalização está em crise, pois vem contemplando a distribuição de cargos, ao mesmo tempo que é muito ineficiente na prestação de serviço”.

Na visão de Avritzer, é necessário aprimorar o atual modelo. Para isso, ele defende uma reciclagem na representação política, uma ampla reforma para acabar com o número excessivo de partidos e o fim do financiamento privado. Esse último item já passa a valer na campanha eleitoral deste ano.

“O modelo de coalização não é a gênese do problema. E sim a distribuição excessiva de cargos que tem gerado corrupção e ineficiência da gestão. O Congresso Nacional de hoje é uma Casa de lobbies e interesses de campanha”.

 

Blindagem

PT e governo querem dar ministério a Lula para blindá-lo, mas ex-presidente recusou. Em jantar no Palácio do Alvorada, o ex-presidente rechaçou a possibilidade de assumir um ministério. O tema foi abordado rapidamente durante o encontro, mas, antes mesmo que chegasse a ser feito um convite, o petista fez questão de negar a intenção.

A avaliação de aliados e auxiliares é de que aceitar assumir uma pasta neste momento poderia ser interpretado como uma “confissão de culpa”, como se ele quisesse escapar do juiz Sergio Moro.

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