A ministra do Supre Tribunal Federal Cármen Lúcia votou na tarde desta terça-feira (9) no julgamento do mensalão. Em seu voto, ela acompanhou integralmente as escolhas do relator, Joaquim Barbosa, e condenou José Dirceu, José Genoino, Delúbio Soares, Marcos Valério, Cristiano Paz, Simone Vaconcelos, Ramon Hollerbach e Rogério Tolentino.
Foram absolvidos Anderson Adauto e Geiza Dias, formando-se a maioria para a absolvição dos mesmos, independentemente dos votos dos demais ministros.
"Acho estranho e grave que uma pessoa diga 'houve caixa dois'. Ora, caixa dois é crime, é uma agressão à sociedade brasileira. E isso não pouco. Me parece grave, porque parece que ilícito no Brasil pode ser realizado e tudo bem", diz a ministra sobre os argumentos da defesa. Sobre os membros do Partido dos Trabalhadores, Cármen Lúcia foi bastante dura e afirma que não era palusível que um publicitário desconhecido de Minas Gerais conseguisse operar todo o esquema apenas com a anuência de um secretário do partido.
"Como é que um partido que, em 2003, estava com as finanças em frangalhos pode, até meados de 2005, ter tanto dinheiro para distribuir para tanta gente, com tantos tipos de benesses, sem que o presidente perguntasse ao secretário do partido como é que se conseguiu isso?", afirma acerca do ex-presidente José Genoíno.
Para fundamentar sua decisão sobre Dirceu, a ministra destacou os encontros dele com o empresário Marcos Valério e com outros réus. Ela destacou que Valério tinha ligações próximas com o Banco Rural e inclusive marcou reuniões de Dirceu com dirigentes da instituição. Ressaltou que em seu depoimento Delúbio afirmou que suas ações tinham respaldo. Para ela, Dirceu era um dos que dava esse respaldo ao ex-tesoureiro petista. "Não tenho como descaracterizado os indícios e provas que houve vantagem indevida que tenha sido ofertada e garantida pelo réu José Dirceu", disse.
Ela afirmou ainda em seu voto que não estava levando em consideração as benesses oferecidas por integrantes do grupo à ex-mulher de Dirceu, Ângela Saragoza. Na visão de Cármen, a atuação nesse caso é típica de lobistas, como Marcos Valério. "Sabemos que os lobistas fazem isso. Pessoas como Marcos Valério fazem isso, procuram uma pessoa em qualquer situação de projeção, verificam alguém que precisa de ajuda, fazem a oferta e se imputa a alguém que detenha o cargo". Apesar de descaracterizar essa parte da acusação, a ministra entendeu que os encontros com Valério e outros integrantes do grupo eram o suficiente para assentar a culpa de Dirceu.
A sessão foi interrompida para o intervalo. Ainda faltam os ministros Marco Aurélio Mello, Gilmar Mendes, Celso Mello e Ayres Britto darem seu voto.
Com Agência Estado